sábado, 5 de fevereiro de 2011

MOURA E A ESCRITA DO SUDOESTE

É uma das descobertas mais interessantes sobre a Idade do Ferro no sul de Portugal. A peça é proveniente de uma escavação arqueológica no castelo de Moura e foi encontrada, há uns meses, pelo meu colega José Gonçalo Valente. O facto de estar inédita levou-me a guardar sobre o assunto total silêncio.
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O ineditismo do achado levou a National Geographic a dar atenção ao assunto, o que me permite também divulgar o achado. Reproduzo o texto da revista:
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A escrita do Sudoeste é um dos mais antigos sistemas de signos conhecidos na Península Ibérica. Estão documentados artefactos com signos desta escrita desde o século VII a.C. até ao século V a.C., mas uma escavação no castelo de Moura, coordenada pelo arquélogo José Gonçalo Valente, alterou o que se conhecia. Este fragmento de cerâmica pintada, localizada no sítio onde se instalará o posto de recpção ao turista no castelo, parece provir de um período mais tardio, prolongando para a primeira metade do século IV a.C. o limite tradicionalmente fixado para esta escrita.
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Apesar de se conhecerem praticamente todos os signos desta escrita do Sudoeste, o seu significado continua por descodificar. Nesta peça estão confirmados cinco signos, de acordo com Amílcar Guerra, perito em epigrafia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Embora falte a tradicional redundância (a vogal repetida a seguir ao símbolo silábico), há outros exemplos conhecidos que desrespeitam a regra. Para o arqueólogo, existe a esperança de se descobrirem muitos mais indícios tardios de uso das antigas escritas hispânicas no Ocidente peninsular, preenchendo melhor o arco temporal da sua utilização até à presença romana, altura em que o latim se impôs.
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A descoberta desta peça é mais que fruto do acaso. A aposta no património, a sua reabilitação e rentabilização social e económica fazem sentido e dão, de uma forma ou de outra, resultados. Os diversos vectores em que temos apostado são o caminho certo. Como o tempo tem vindo a demonstrar. Para quem perceba alguma coisa disto, o que exclui os opinion-makers de fim de tarde.
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É evidente que achados como este (é o primeiro exemplar de escrita do sudoeste encontrado no concelho de Moura) dão um interesse acrescido à importância arqueológica e patrimonial de Moura. E abrem caminho a que jovens colegas, como a Vanessa Gaspar e o José Gonçalo Valente, se lancem em projectos autónomos de investigação. Assim eles o queiram fazer.
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Obrigado Luís Rosado, por me teres mandado o pdf. Hoje em dia já não há distâncias.

1 comentário:

terraculta disse...

Linda cerâmica. os caracteres não são parecidos com alguns de Silves? Há várias placas de grés com escrita no museu. São desta época. Talvez um pouco mais tardios. Ainda não tinham aparecido materiais desta época no Castelo de Moura? Obrigada Santiago por nos ires actualizando