domingo, 13 de fevereiro de 2011

TUNÍSIA II: DE MAHDIA A LAMPEDUSA

Chanson d'automne

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon cœur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte
Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

Propostas de tradução (comentadas) em http://www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet024.htm

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Hoje chegaram mais mil pessoas a Lampedusa. A pequena ilha italiana está apenas a uma centena de quilómetros do continente africano. É uma tentação mais que evidente para todos os que procuram, a todo o custo, uma vida melhor. Quem os poderá censurar?
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Pelos mil que chegaram muitos mais morrerão em travessias difíceis e à mercê de todo o tipo de traficantes. A história do Mediterrâneo não é uma história de virtudes e de convivências pacíficas e amistosas. É uma história de tensões e de equilíbrios precários.
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Uma ideia leva a outra e a travessia perigosa trouxe-me à memória este Shipwreck of the Minotaur, um quadro de Turner que está exposto no Museu Gulbenkian (confesso que, num primeiro momento, tive a tentação de recorrer ao mais óbvio La Radeau de la Méduse, de T. Géricault, mas o dramatismo do pintor britânico não é menos impressivo). E, mesmo que Verlaine não estivesse a pensar em naufrágios quando escreveu este poema, hoje celebérrimo, as suas palavras são de uma infinita tristeza. E a imagem e o som que o (...) vent mauvais / Qui m'emporte / Deçà, delà, / Pareil à la / Feuille morte evocam não devem ser estranhos ao que vai no espírito dos africanos que, todos os dias, desafiam a morte para chegar a El Dorado.
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O Minotaur afundou-se em 1810; o quadro de Turner terá sido concebido pouco depois. Le Radeau de la Méduse data de 1819 e encontra-se no Louvre. Chanson d'automne é também, e para não fugir à regra, uma obra do século XIX: foi publicado em 1866.

4 comentários:

Anónimo disse...

Conho, Santiago, com coisas tão giras que escreves no blog e já ninguém te faz comentários. O que queres, escalfas o pessoal! Não sabes que a malta não tem pedalada pra tanto?
Diverte-te.

babao disse...

Caro Anonimo das 23:03, a ausência de comentarios nao é sinal de nao leitura e muito menos de nao empatia.

Quando lemos o jornal, ou um livro nem sempre o autor sabe o que pensam os milhares de anonimos que o fizeram. Nao é por esse motivo, que o jornalista, o escritor, o poeta vai deixar de escrever.

Por outro lado é mais do que obvio que os temas abordados neste Salao Cibernético sao de uma grande qualidade cultural/artistica e que provavelmente nao estou ao alcance de todos. É ai que se faz a diferença entre "les uns et les autres" ; )

Have a nice day !

Santiago Macias disse...

"Conho" soa a comentário de amarelejense.
Dupla discordância. Acho que todos os leitores têm pedalada para um poema e para um quadro. Bem como para a situações que evocam.
Quanto ao poema: não disponho de tradução em português satisfatória. Acrescentei um link.
Os quadros de Turner e de Géricault recordam naufrágios. A imagem de desastre está patente neste; a jangada da Méduse é um verdadeiro palco de tragédia. Faça-se uma pesquisa na net.
Sobre o drama dos africanos que morrem a cruzar o Mediterrâneo: será que isso não está ao alcance de todos?

Curioso disse...

A tradução não é muito boa mas é o que se consegue no Tradutor do Google...

Canção de Outono

Os soluços longos
Dos Violinos
Do Outorno
Ferem o meu coração
Numa languidez
Monótona.

Totalmente sufocado
E claro, quando
Soa a hora,
Eu recordo-me
De dias antigos
E eu choro

E eu estou indo
No vento mau
Quem me leva
Abaixo, além,
Como a
Folha morta.