sábado, 20 de abril de 2019

O QUE É QUE MÉRTOLA TEM?

Não podemos responder como no célebre samba de Dorival Caymmi. Porque Mértola não é nos trópicos, não há baianas e a Bahia fica a 6.500 quilómetros. Mas há outras coisas que Mértola tem? Muitas outras coisas tem. Tem o sítio e aquele esporão que olha, para quem chega pelo rio, com um trejeito arrogante e de desafio. Tem os monumentos da Antiguidade, que nasceram da riqueza das minas em volta e que deixaram marcas no território. Hoje dir-se-ia que teve investimento público. Há 1500 anos, houve o desejo de tornar o sítio ainda mais imponente. Veio a torre do rio, mais a basílica do Rossio do Carmo e todo o esplendor do oriente nos mosaicos do complexo religioso. Mértola tem um bairro islâmico, laboriosamente escavado ao longo de quatro décadas. Há aí casas com pátio e, se fecharmos os olhos, ouvimos alaúdes e o rumor das mulheres e das crianças dentro de casa. Tem uma mesquita, ou o que dela resta. Tem o nicho da oração e as portas do antigo pátio. O que dela resta é tão extraordinário, que esquecemos o que está em volta.

Mértola tem o silêncio da vila velha e o perfume das laranjeiras. Tem a cal e pequenos labirintos de muros e de quintais escondidos por detrás dos muros. Mértola tem museus? Tem. Que são a consequência e não a causa das coisas. Só os tem, porque o Património, a História e a Identidade da vila foram sendo descobertos, ao longo de muitos anos. O que estava esquecido tornou-se motivo de orgulho. A vila mostra-se, dentro e fora de portas. Porque tem graça e charme como nenhum outro sítio tem.

Não há, como no samba, panos da Costa ou sandálias enfeitadas, muito menos balangandãs. Mas há o Guadiana e há a terra firme à sua volta.

Mértola tem. Personalidade, sentimento, firmeza e coragem tem.

E tem os mertolenses, mais que tudo, isso tem.


Texto publicado na Agenda Cultural da Câmara Municipal de Mértola.