Há tempos, um amigo, professor de
História da Arte, fez-me notar a preocupação que sempre manifesto com a
memória. Constatei depois que assim é. Que, ao longo da minha carreira, sempre
tenho, de forma muito vincada, procurado sublinhar a importância do legado dos
nossos antepassados. Sublinhar, resgatando, valorizando e contribuindo para
deixar para as gerações futuras. Fi-lo, ou isso tentei, em funções muito
diferentes, em Mértola e em Moura. Os impactos que isso causou e, sobretudo, as
reações que essas iniciativas causaram foram muito interessantes. Algumas
verdades se sedimentaram. Uma sobretudo, a do grande Duarte Pacheco Pereira (a experiencia he madre das cousas, por ella soubemos radicalmente a
verdade). A experiência de fazer, e a experiência que se vai adquirindo. A forma como se valoriza o
Património, que é de nós todos e será de quem a seguir vier, diz muito dos
valores políticos que temos, e daquilo que defendemos.
São interessantes as
perceções que temos do Património. Por isso me recordo tão bem daquela manhã
abafada e quente do final de dezembro de 1999. Alguém nos arrastou (ao Carlos
Fabião e a mim) até à Elm Street - a última rua onde J.F. Kennedy passou, e a
que deu o nome ao filme... -, para vermos a John Neely Bryan Cabin. A cabana estava
no meio de uma esplanada. De longe, parecia isolada e sem charme. De perto, era
pior ainda. É um local histórico, que representa o sítio onde morou o fundador
de Dallas. A falácia é dupla. O edifício já não é o original, construído em
1841 e há muito desaparecido, nem estava exatamente naquele sítio. Pouco
importa. Os texanos fizeram da memória do sítio aquilo que conta. Ou seja,
criaram uma recordação da origem da cidade.
Temos coisas mais
impressivas por cá? Temos. De melhor qualidade arquitetónica. E simbolicamente
decisivas para todos nós. Olhando as terras do nosso concelho, e antes de 1841,
que temos nós? Torre dos séculos XII, XIV e XVI, no castelo de Moura. Igrejas
de interesse em todas as localidades. Arquitetura civil notável a partir do
século XVI. Casas apalaçadas que fizeram do centro histórico da cidade aquilo que
ele é.
Nem tudo é recuperável ou
musealizável ou pode ser conservado. Esse é um facto. Há, contudo,
responsabilidades coletivas, que são antes de mais políticas, que nos obrigam a
conservar a memória das coisas e dos sítios. Isso inclui recordar os que
combateram pela Pátria, os edifícios que trazem consigo o peso da História,
factos ocorridos em determinada data ou local. Um Futuro não se constrói sem se
fixar o Passado.
O que liga a valorização e a
recuperação de imóveis é a mesma linha de atuação e traduz-se em esforço,
empenho e na obrigação de dignificarmos a memória dos que nos antecederam. Nada
mais simples. De Dallas a Moura a distância é curta.
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