sábado, 15 de fevereiro de 2020

BERNARDO ALABAÇA, RUA!

Tenho no meu currículo de memórias vários casos de nomeações polémicas que se revelaram excelentes soluções. Não sei se vai ser o caso de Bernardo Alabaça, o recém-nomeado Diretor-Geral do Património Cultural. Desde há dois dias que soa um imenso clamor em torno da nomeação. Parte desse clamor é corporativo.

O nome suscita-me reservas? Sim. O percurso do novo diretor-geral é causador de entusiasmo? Muito pouco, francamente.

Por ser de direita? Não.
Por não ser "da área" (nem museólogo, nem arqueólogo, nem...)? Não.
Por ser um engenheiro, logo um insensível? Não.
Por ter trabalhado na iniciativa privada? Não.
Por ser gestor imobiliário? Não.

Por nunca o ter visto/ouvido tomar uma posição pública sobre questões do Património ou da Cultura. E por ter proposto, na sua tese de mestrado, "a criação de um portal imobiliário que permitisse atuar como uma central de vendas do património público e também como uma central de compras para instalação de entidades públicas". Uma perigosa Caixa de Pandora... Preocupante ainda foi a travagem que fez, em Oeiras e tendo um cargo importante no Ministério das Finanças, do processo de alargamento de classificação do Palácio do Marquês de Pombal.

Grande parte do percurso de Bernardo Alabaça tem sido feito no Estado. O que se espera é que quem trabalha para o Estado o fortaleça e o melhore. No caso do Património, o que é necessário é que o Estado assuma responsabilidades e que não desbarate Património, sob a capa, pífia e por provar, que os privados gerem melhor... Às vezes gerem, mas com o Estado a dar um jeitinho. E o que não podemos permitir é que uns poucos lucrem com o que é de todos, à custa de todos nós. É que em Portugal, já lá dizia Diogo Bernardes no séculos XVI, "de mecenas tantos temos, como brancos tem a Etiópia".

Que se espera? Que promova uma política de requalificação do Património, dos Museus, dos sítios arqueológicos, de conservação e restauro etc. E de rentabilização do Património? Seguramente.

Bernardo Alabaça, rua? Ainda não, caramba. É mais prudente e mais justa a expetativa. Ainda que atenta. O caso Vila Galé será o primeiro teste da nova equipa.

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