sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

QUINTA COLUNA Nº. 9: AUGUSTO E TIBÉRIO NO SÉCULO XXI


O imperador Augusto morreu em 19 de agosto de 14. Há mais de 2.000 anos. É do tempo deste homem de Estado a versão mais antiga do fórum de Beja. Com num jogo de “mikado”, as ocupações foram-se sucedendo no sítio mais alto, e mais importante, da cidade de Beja. Passos de maior destaque nesse longo processo de construção? A ocupação da Idade do Ferro, as imponentes construções de época romana, os vestígios do período islâmico e a extraordinária Casa da Moeda quinhentista.
Abel Viana tateou um pouco os terrenos do fórum de Beja. Os tempos eram outros e, para além da recolha de alguns materiais e de um esquiço do local, pouco mais se fez. Foi preciso esperar 50 anos para que um longo processo de resgate dessa memória da cidade se pusesse em marcha. A partir de 1997, e sob a direção de Maria da Conceição Lopes, professora na Universidade de Coimbra, começaram as escavações. A arqueóloga defenderia, pouco depois, uma tese de doutoramento sobre Beja e o seu território. Um trabalho corajoso e de difícil concretização. A cidade romana de Beja: percursos e debates acerca da "civitas" de Pax Ivlia é estudo com duas décadas que continua atualíssimo e que, ante os recentes ataques de que o Património em áreas rurais tem vindo a ser alvo, mais pertinente se torna.
A partir de 2008, as escavações ganharam outro fôlego e começaram a emergir dados de grande relevo sobre a cidade romana. A par com a descoberta de uma Casa da Moeda, da qual se pode dizer que é verdadeiramente única. Os tempos mais recentes foram marcados por alguns sobressaltos. Notícias menos boas – escavações interrompidas, degradação de estruturas, etc. – mereceram o destaque que as notícias menos boas sempre têm.
Na passada semana, teve lugar a apresentação do projeto para reabilitação do sítio do fórum romano de Beja. A esperança renasce. Pelo menos, foi essa a ideia com que fiquei. Dão-se, objetivamente passos para a reabilitação de uma área com cerca de 2.000 m2. Ainda que haja acertos a fazer – e aspetos a incorporar, em termos arqueológicos -, a reversibilidade / adaptação modular do centro de interpretação é um achado e lança pontes de diálogo para o futuro.
Que perspetivas se abrem, a partir daqui?
·      A concretização do projeto e a valorização das estruturas;
·      A possibilidade de monumentalização das ruínas, via anastilose - (re)construção a partir de elementos previamente existentes -ou outros métodos;
·      A necessidade de uma articulação do futuro centro de interpretação + centro de arqueologia com o restante património da cidade, nomeadamente o Museu Regional, a Rua do Sembrano, a igreja de Santo Amaro e o sítio de Pisões. Caso contrário, a lógica dispersiva e capelística dominará;
·      Uma desejável conclusão do processo de escavações, seguido da sua publicação.
Em 21 de junho de 2019, escrevi, neste mesmo jornal, um artigo sobre o fórum romano de Beja. Reitero o que então disse. Em seis meses, houve avanços significativos. Termino com as mesmas palavras que então: “A tomada de decisões sobre o património, na perspetiva da sua reabilitação, nem sempre é ‘simpática’. Nem imediata. É mais fácil ‘feirizar’ a História, criar ‘eventos’ e complementá-los com iniciativas folclóricas. Dá muito menos trabalho e rende mais, no curto prazo. Ora, como bem sabemos, e tendo em conta o que nos resta do fórum, o Património é matéria para o longo prazo”.

Hoje, no "Diário do Alentejo"

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