Faz hoje 50 anos que um grupo de patriotas, militantes do Partido Comunista Português, se evadiu do Forte de Peniche. Integravam-no, entre outros, Álvaro Cunhal, Carlos Costa, Francisco Miguel e Francisco Martins Rodrigues (este último natural de Moura). É um importante episódio da luta contra o fascismo, que as gerações mais jovens ignoram por completo. Não participou na fuga, por decisão própria, António Borges Coelho (um relato dos anos de Peniche está incluído no livro Historiador em discurso directo, que a Câmara Muncipal de Mértola editou em 2003).
.Num país que lida mal com a memória, e com o passado, o Forte de Peniche vai acabar como pousada de luxo (idêntico destino está reservado à sede da antiga polícia política, em Lisboa), sem que se saiba ao certo o que se vai passar com zonas simbólicas de um local que foi, ao mesmo tempo, espaço de sofrimento e de resistência. Os curros do Aljube, em Lisboa, são apenas uma referência e uma recordação dos que por lá penaram às mãos da PIDE. E assim vão, aos poucos, desaparecendo os símbolos da luta contra a ditadura. Lamenta-se que assim seja, porque é assim que se branqueia o passado e se ilibam os culpados da repressão. É a nossa alma português suave, naquilo que de pior tem.
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Álvaro Cunhal não mais voltaria a ser preso. Regressou a Portugal depois do 25 de Abril. Aqui o vemos, nesta extraordinária fotografia de Guy LeQuerrec, feita durante um comício em Pias e datada de 27 de Julho de 1974. No lado direito da imagem está António Pós-de-Mina, dirigente local do PCP.
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11 comentários:
Nem todos se lembram, mas seguramente nem todos esquecem.
NÃO PASSARÃO.
Caro Santiago:
Não quero parecer intrometido(e logo com um historiador) mas acho que estás a confundir e a misturar duas fugas: a de Peniche, onde usaram como meio de fuga lençóis atados uns aos outros para passarem as muralhas e a de Caxias( a 4 de Dezembro de 1961), cerca de um ano depois, em que outro grupo de militantes do PCP fugiu utilizando uma viatura blindada, essa sim, usada por Salazar.
Podes conferir aqui: http://www.urap.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=73&Itemid=37
e aqui: http://www.citi.pt/cultura/artes_plasticas/desenho/alvaro_cunhal/fuga_peniche.html
Um abraço. E é apenas um pormenor.
CJ
Três breves notas:
Os historiadores, e ainda por cima os que não são de História Contemporânea (como é o meu caso), não são infalíveis. E, neste caso, meti o pé na argola...
Vou já tirar o carro do caminho.
Obrigado pela correcção.
Abraço
SM
parabéns pela fotografia do forte, para lá da celebração da efeméride. Um bom ano.
Amigo Rafael
Um bom ano para todos nós! A fotografia do forte (sem indicação de autoria) é do site do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória - http://maismemoria.org/mm/
Abraço
SM
Outras vezes, a verdade vem sempre acima como o azeite. Contra factos não há argumentos, por mais que, alguns, pretendam branquear o seu passado, o seu presente, e as suas intenções futuras.
A Verdade e a Mentira na Revolução de Abril (A Contra-Revolução confessa-se):
"Quando se fala em verdade e mentira na política, não se afirma que, em relação às teorias, opiniões, apreciações e interpretações, se possam ter as próprias como verdades absolutas e as de outros como absolutas mentiras.
A mentira na política reside, antes de mais, em falsear os factos, os dados objectivos. Afirmar que se passou o que não se passou e que não se passou o que realmente aconteceu. Afirmar que se disse o que não se disse e que não se disse o que de facto se disse. Afirmar que se fez o que não se fez e negar que se tenha feito o que realmente se fez.
Verdade é referir com objectividade factos e acontecimentos, mesmo quando desfavoráveis à própria opinião. Mentira é dizer que aconteceu o que não aconteceu, inventar factos e afirmações, lançar acusações falsas e calúnias vis.
Na Revolução de Abril e na contra-revolução encontra-se, com toda a evidência, uma diferença abissal entre, por um lado, o PCP e as forças mais consequentes da Revolução e, por outro lado, as principais forças militares e partidárias da contra-revolução.
As primeiras fiéis à verdade, as outras usando a mentira como arma e como prática viciosa e sistemática, que acabou por pretender afirmar-se perante a opinião pública como mostra de talento e arte, socialmente admitida e reconhecidamente impune.
Verdade do programa de um partido é definir e proclamar os seus reais objectivos. Mentira é inscrever e proclamar no programa objectivos contrários aos que realmente pretende atingir.
Verdade é, na actividade prática, declarar os reais objectivos e as reais consequências que se pretendem. Mentira é, para ocultar e disfarçar os reais objectivos, difundir e propagar que decisões e medidas têm efeitos que vão ao encontro dos interesses do povo, quando têm em vista efeitos precisamente contrários."
Álvaro Cunhal
Setembro de 1999.
É um texto eternamente actual.
BB
quando se fala de ALVARO CUNHAL, é impossivel que alguem, mesmo não defendendo a sua ideilogia politica fique indeferente a tudo aquilo que o Srº representou na democracia deste pais.
tive o previlegio de contactar com essa personalidade de perto e de uma coisa eu tenho a certeza era de uma generosidade e intelegençia impar.
pena é que toda a comunicação social tenha dado tão pouca importancia ao acontecimento por esse senhor protagonizado.
amigo Santiago um bom ano e parabens por ter postado um assunto tao importante.
Com tantos assuntos banais a servirem para realizadores de cinema trabalhar, não é um ótimo tema para se passar para a tela ?
diga lá se não era uma boa produção, e uma forma de mostrar aos mais novos o valor desta fuga ? o amigo como cinéfilo ainda não pensou nisso? Boas Fugas em 2010!!
É verdade que é um bom tema. Todos os temas são bons, afinal, desde que haja talento detrás das câmaras. E desde que não tenhamos de ser doutorados em semiologia para perceber o filme...
Se até eles conseguiram fugir de Peniche...porque é que eu não tenho a mesma sorte?????
Ó amiga Estela! Então isso é coisa que se diga...
Eu prometo que não conto ao António José Correia.
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