No ano passado, teve lugar em Moura uma pouco vulgar homenagem, que aqui quero relembrar, neste início de ano.
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Trata-se de um pequeno monumento, que inclui os nomes de todos os naturais do concelho de Moura que faleceram na Guerra Colonial. Não é aqui o lugar para uma reflexão sobre as guerras em África ou sobre as feridas ainda em aberto. Mas registei com orgulho o facto da Câmara de Moura ter sido uma das raras (não conheço outro caso, mas admito que exista) a homenagear os seus naturais falecidos nas terras da Guiné-Bissau, de Angola e de Moçambique.
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Há sempre ali flores, que mão anónima deposita com regularidade. É, para mim, o aspecto mais significativo e comovente desta homenagem.
6 comentários:
Quando estes autênticos homicídios são cometidos em nome da pátria, da religião, da politica, para satisfação da ganância de alguns, prefiro dizer que venho de outro planeta, ou então, de outra espécie de símios.
Valeu a pena?
Acho que esse ramo de flores nos responde e nos silencia a todos.
BB
A ideia foi boa. A lápide é horrivel. Mau gosto. Não podiam ter pensado num simbolo menos deprimente?
Não percebo este último comentário. As lápides, ainda que ao jeito de uma simples "memoria", têm raízes bem fundas na nossa civilização, pelo que não percebo a alusão ao "mau gosto". Deprimente? Acaso a morte daqueles jovens poderá ter alguma nota de alegria? Poderia, por obséquio, sugerir-nos uma alternativa, com todo o seu bom-gosto?
Pelos vistos as flores não silenciaram...
O que eu considero de profundo mau-gosto é comentar-se o acessório deste post. Uma lápide simbólica SIM, porque a ideia deveria ser mesmo essa, que fiquemos todos profundamente deprimidos perante guerras e mortes que não fazem qualquer sentido. Afinal elas (as guerras) continuam a proliferar por todo o lado, não são ficção televisiva nem cinematográfica. Pelos vistos, nem os monumentos mais deprimentes, fazem despertar as pessoas desta cegueira colectiva e materialista onde vivemos embrenhados. Será que alguém que perdeu um familiar ou amigo, nestas circunstâncias, ou que os tendo de volta sabem o quanto ficaram física ou psicológicamente afectados,se lembraria de fazer um comentário tão inoportuno?
Ainda a propósito da cegueira daqueles que vêem e não reparam: “Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem...” (José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira).
Aconselho o livro a todos aqueles que vêem, mas não reparam, e passam o tempo a olhar para o acessório sem reflectir no essencial.
Seria um bom exercício para começo de ano, não? Só faltou comentar a qualidade e o preço do ramo de flores.
BB
Infelizmente deixámos essas homenagens para a direita como se estas homenagens, merecidas aos que tombaram em terras da Guine Moçambique e Angola fossem uma bandeira de afirmação de uma determinada area politica.
Não podem nem devem ser. São portugueses (sublinho o São)simplesmente "...lá no assento etéreo, onde subiste,Memória desta vida se consente" e como tal são merecedores deste preito que em boa hora a Camara Municipal de Moura teve a sensibilidade de levar avante.
Fico muito grato pela câmara da minha terra ter sido pioneira nesta matéria , espero que se possa avançar, em breve, para um monumento digno daqueles « QUE POR OBRAS VALEROSAS SE VÃO DA LEI DA MORTE LIBERTANDO... »
É verdade que a esquerda deixou esse terreno a outros. Confundiu-se o direito dos povos à libertação - luta que também ajuda a nossa conquista da liberdade - com o sacrifício dos jovens portugueses em África. E os nossos mortos devem ser recordados e respeitados. Sem dar margem à direita para aproveitamentos.
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