domingo, 4 de setembro de 2011

SCIROCCO


Na luz oscilam os múltiplos navios
Caminho ao longo dos oceanos frios

As ondas desenrolam os seus braços
E brancas tombam de bruços

A praia é lis e longa sob o vento
Saturada de espaços e maresia

E para trás fica o murmúrio
Das ondas enroladas como búzios.



Estranhamente, ou talvez não, o poema, de Sophia de Mello Breyner Andresen, que esta fotografia me recordou intitula-se praia. O jogo de palavras com a areia da tempestade seria demasiado fácil. A palavra que me ocorre, nas palavras e na imagem dos homens que caminham penosamente no vento é abandono. Ou solidão.

A fotografia data de 1964, intitula-se scirocco e é um trabalho absolutamente excecional de um fotógrafo não profissional. Chamou-se José Ortiz Echagüe (1886-1980) e foi engenheiro militar, piloto, industrial e presidente da SEAT, nem mais nem menos. Começou a fotografar na adolescência, tendo publicado vários livros de inestimável importância artística e etnográfica. A leitura que faz da luz é originalíssima e a sua cultura visual é, sem margem para dúvidas, tributária de El Greco, Goya e Ribera. Nesse sentido, os trabalhos de Echagüe são profundamente hispânicos.

1 comentário:

José Francisco disse...

Curiosamente a SEAT está inserida no grupo VW que tem um modelo com esse nome, Volkswagen Scirocco, o modelo desportivo da marca.