quinta-feira, 6 de outubro de 2011

LISBOA - TOMAS TRANSTRÖMER




Escuso de estar a armar. Nunca tinha ouvido falar em Tomas Tranströmer (n. 1931), o poeta sueco a quem foi atribuído o Nobel. É sempre um grande momento do ano literário, embora nem sempre o prémio seja atribuído a grandes autores. Não o ganharam nomes maiores, como James Joyce ou Marcel Proust ou Henrik Ibsen ou Henry James ou Graham Greene ou Jorge Luis Borges ou...


O poema que aqui fica, sobre Lisboa, foi publicado hoje no "Público" com um delicioso equívoco, pois juntaram ao texto uma fotografia do Porto...


Lisboa


No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas calçadas íngremes.

Havia lá duas cadeias. Uma era para ladrões.

Acenavam através das grades.

Gritavam que lhes tirassem o retrato.


“Mas aqui!”, disse o condutor e riu à sucapa como se cortado ao meio,

“aqui estão políticos”. Vi a fachada, a fachada, a fachada

e lá no cimo um homem à janela,

tinha um óculo e olhava para o mar.


Roupa branca no azul. Os muros quentes.

As moscas liam cartas microscópicas.

Seis anos mais tarde perguntei a uma senhora de Lisboa:

“será verdade ou só um sonho meu?”


Tradução de Vasco Graça Moura


A fotografia que escolhi é de um livro mítico: Lisboa, cidade triste e alegre, de Victor Palla e Costa Martins, uma edição de 1959.

2 comentários:

babao disse...

Deixa la...eu também pensava que eles so tinham os ABBA e a Pipi da Meias Altas : )))

Anónimo disse...

Quem estava `a janela naquela cadeia dos politicos?Seria Miguel Torga a declamar o seu poema Ariane?Creio que sim!

Ariane
Ariane é um navio.
Tem mastros, velas e bandeira à proa,
E chegou num dia branco, frio,
A este rio Tejo de Lisboa.

Carregado de Sonho, fundeou
Dentro da claridade destas grades…
Cisne de todos, que se foi, voltou
Só para os olhos de quem tem saudades…

Foram duas fragatas ver quem era
Um tal milagre assim: era um navio
Que se balança ali à minha espera
Entre as gaivotas que se dão no rio.

Mas eu é que não pude ainda por meus passos
Sair desta prisão em corpo inteiro,
E levantar âncora, e cair nos braços
De Ariane, o veleiro.