Por esta altura, está a passar na Cinemateca o filme Catembe, de Faria de Almeida. Obra mítica, rodada em 1964, nunca foi vista na íntegra. Passa por ser um dos filmes mais censurados da História do Cinema, com 103 cortes. Segundo ouvi em tempos, muitos deles tinham a ver com o uso da palavra Portugal quando a referência deveria ser à Metrópole. As imagens que vi, em tempos, na tv aguçaram-me o interesse no filme, que me pareceu de grande interesse, ainda que de uma marcada ingenuidade. A recuperação da memória do primeira e última obra de Faria de Almeida está a ser levada a cabo pela jornalista Maria do Carmo Piçarra, uma reputada especialista em cinematografia. Que tem, diga-se, raízes em Moura.
A exibição ocorre a poucas centenas de metros do Palácio Foz, sítio emblemático da propaganda do Estado Novo. Um local apropriadamente escolhido pelas elites para discutirem, ontem e no meio de dourados versalhianos, o futuro da Pátria. Em segredo e longe do suor da populaça.
Viver de costas para a realidade e longe da realidade nunca dá bom resultado. Por mais censura que se use.
1 comentário:
De facto não podia dizer-se Portugal porque do Minho a Timor éramos todos portugueses, dizia o regime. Não se podia, pois, dizer que Lourenço Marques não era Portugal, também. Muitas das cenas censuradas - e destruídas. Porque sobraram apenas 11' de cortes, guardados sigilosamente pelo Faria de Almeida até ao início das nossas conversas - são relativas à mistura racial em bares onde as pessoas bebiam, riam e dançavam jazz e samba. Nada que tivésse a ver com a "portugalidade" desejada e com "Fátima, fado e futebol". É um prazer passar pelo teu blog, Santiago. Quero saber do Convento do Carmo - onde nasci vai fazer 43 anos. Às vezes passo em Moura numa espécie de romaria do coração e fico-me, triste, junto àquele portão. Uma das alegrias é ver o trabalho que tem sido feito no castelo. Se algum dia quiserem mostrar o Catembe - e outros filmes censurados - em Moura, tenho muito gosto em ir apresentá-los.
Enviar um comentário