segunda-feira, 8 de abril de 2013

AS CANCELINHAS, A BIBLIOTECA E A IGREJA DO CONVENTO DAS BEATAS



Três edifícios, três projetos, três histórias diferentes. O que as une? O nome da dupla de arquitetos, Victor Mestre e Sofia Aleixo. E duas localidades do concelho: Amareleja e Moura. A que propósito vem esta referência? É que Victor Mestre e Sofia Aleixo acabam de ser galardoados com um dos prémios EUROPA NOSTRA no domínio da reabilitação do Património. Trata-se de uma das mais importantes distinções da arquitetura, a nível mundial, e é atribuído anualmente pela União Europeia. A intervenção premiada foi, neste caso, o trabalho de reabilitação do Liceu Passos Manuel, em Lisboa. Por várias vezes ouvi o Victor explicar o processo de evolução do projeto e pude constatar a forma, inteligente e sensível, como ultrapassou as dificuldades inerentes à necessidade de dar nova vida a um velho imóvel, apetrechando-o para fazer face às necessidades educativas e sociais do século XXI. Isso faz-se sabendo desenhar e com imaginação? Sem dúvida, mas há uma outra componente que é essencial, chamada conhecimento. Os projectos do Victor e da Sofia são fruto de um conhecimento aprofundado dos materiais, dos sistemas construtivos e da História da Arquitetura. A obra do Liceu Passos Manuel é um exemplo prático e concreto do que acabo de dizer.

A relação do Victor Mestre e da Sofia Aleixo com o concelho de Moura é recente, tendo-se iniciado em 2007. Venceram três concursos para projetos de reabilitação, desenvolvidos numa das áreas em que tenho tido responsabilidades políticas, enquanto vereador: a dos estudos e projetos. Uma dessas intervenções, a das Cancelinhas, situa-se na Amareleja. É um processo complexo, que obrigou, por razões financeiras, a uma “divisão” das suas componentes em várias fases. O concurso para esta obra foi agora lançado. O resto é conversa fiada. O projeto da Biblioteca é, por seu turno, um notável projeto de recuperação de um dos mais belos palácios da cidade. Será uma das prioridades do próximo mandato autárquico. Em fase de obra está a bela igrejinha do Convento do Espírito Santo, que a tradição popular denomina como Convento das Beatas. Um projeto muito simples de adaptação do imóvel a galeria de exposições. É um estilo pouco vaidoso, o do Victor e da Sofia, para quem uma igreja como esta “já tem arquitetura de sobra”. Não é preciso, portanto, fazer grandes modificações, mas sim fazer o restauro do imóvel.

Ter autores assim a trabalhar no nosso concelho é bom? É, de facto, muito bom. Como se tem provado no decurso dos últimos anos, vale a pena irmos buscar fora de portas as soluções que não encontramos internamente. Ou que, podendo ser encontradas internamente se tornam de tal modo morosas que se perdem tempo e, sobretudo, dinheiro. Coisas que alguns aprendizes de política local continuam a ter dificuldade em perceber.

Crónica publicada em "A Planície" do passado dia 1 de abril. A fotografia foi tirada a um telhado de Ouarzazate, um daqueles sítios caros à cultura arquitetónica de pessoas como a Sofia e o Victor.

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