Três edifícios, três projetos, três
histórias diferentes. O que as une? O nome da dupla de arquitetos, Victor
Mestre e Sofia Aleixo. E duas localidades do concelho: Amareleja e Moura. A que
propósito vem esta referência? É que Victor Mestre e Sofia Aleixo acabam de ser
galardoados com um dos prémios EUROPA NOSTRA no domínio da reabilitação do
Património. Trata-se de uma das mais importantes distinções da arquitetura, a
nível mundial, e é atribuído anualmente pela União Europeia. A intervenção
premiada foi, neste caso, o trabalho de reabilitação do Liceu Passos Manuel, em
Lisboa. Por várias vezes ouvi o Victor explicar o processo de evolução do
projeto e pude constatar a forma, inteligente e sensível, como ultrapassou as
dificuldades inerentes à necessidade de dar nova vida a um velho imóvel,
apetrechando-o para fazer face às necessidades educativas e sociais do século
XXI. Isso faz-se sabendo desenhar e com imaginação? Sem dúvida, mas há uma outra
componente que é essencial, chamada conhecimento. Os projectos do Victor e da
Sofia são fruto de um conhecimento aprofundado dos materiais, dos sistemas
construtivos e da História da Arquitetura. A obra do Liceu Passos Manuel é um
exemplo prático e concreto do que acabo de dizer.
A
relação do Victor Mestre e da Sofia Aleixo com o concelho de Moura é recente,
tendo-se iniciado em 2007. Venceram três concursos para projetos de
reabilitação, desenvolvidos numa das áreas em que tenho tido responsabilidades
políticas, enquanto vereador: a dos estudos e projetos. Uma dessas
intervenções, a das Cancelinhas, situa-se na Amareleja. É um processo complexo,
que obrigou, por razões financeiras, a uma “divisão” das suas componentes em
várias fases. O concurso para esta obra foi agora lançado. O resto é conversa
fiada. O projeto da Biblioteca é, por seu turno, um notável projeto de
recuperação de um dos mais belos palácios da cidade. Será uma das prioridades
do próximo mandato autárquico. Em fase de obra está a bela igrejinha do
Convento do Espírito Santo, que a tradição popular denomina como Convento das
Beatas. Um projeto muito simples de adaptação do imóvel a galeria de
exposições. É um estilo pouco vaidoso, o do Victor e da Sofia, para quem uma
igreja como esta “já tem arquitetura de sobra”. Não é preciso, portanto, fazer
grandes modificações, mas sim fazer o restauro do imóvel.
Ter
autores assim a trabalhar no nosso concelho é bom? É, de facto, muito bom. Como
se tem provado no decurso dos últimos anos, vale a pena irmos buscar fora de
portas as soluções que não encontramos internamente. Ou que, podendo ser
encontradas internamente se tornam de tal modo morosas que se perdem tempo e,
sobretudo, dinheiro. Coisas que alguns aprendizes de política local continuam a
ter dificuldade em perceber.
Crónica publicada em "A Planície" do passado dia 1 de abril. A fotografia foi tirada a um telhado de Ouarzazate, um daqueles sítios caros à cultura arquitetónica de pessoas como a Sofia e o Victor.
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