terça-feira, 17 de junho de 2014

QUARTÉIS DE MOURA - PARA MEMÓRIA FUTURA

 Vista parcial do recinto

 Intervenção na inauguração (cf. infra)

 Deposição de coroa de flores na lápide de homenagem aos militares falecidos na Guerra Colonial

 Descerrando a placa de inauguração.
Da esquerda para a direita: Francisco Cerejo (Pres. da Assembleia Municipal), o autor do blogue, José Maria Pós-de-Mina (ex-Presidente da Câmara) e Nuno Vassallo e Silva (Diretor-Geral do Património Cultural)

Texto da placa

Senhor Diretor-Geral do Património Cultural
Senhor Presidente da Assembleia Municipal
Senhores Vereadores
Senhores Autarcas
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Almeida

Caros conterrâneos

A aparente impossibilidade das coisas é, provavelmente, o seu maior desafio. É algo que se desloca sobre nós, como uma sombra que jamais se desvanece. Há sonhos à nossa frente, que se movem e nos escapam. Ou tentam escapar. Como tantos outros jovens da minha geração, fui assombrado pelos últimos parágrafos de “Os Maias”, de Eça de Queirós. Recordo-vos a passagem:

“A lanterna vermelha do “americano”, ao longe, no escuro, parara. E foi em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço:
- Ainda o apanhamos!
- Ainda o apanhamos!
De novo a lanterna deslizou, e fugiu. Então, para apanhar o “americano”, os dois amigos romperam a correr desesperadamente pela rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira claridade do luar que subia."

Muitas vezes, ao longo da vida, me tenho recordado desta passagem. Muitas outras tenho tentado, como tantos de nós, alcançar o que nos escapa, procurar cumprir metas traçadas, fazer de alguns sonhos realidade. Disse um dia a um velho amigo da Câmara Municipal que poderia ir-me embora no dia em que começassem as obras de reabilitação dos Quartéis.  O destino tinha, contudo, outros planos e acabo por presidir à cerimónia de inauguração deste edifício.

Os Quartéis têm uma forte carga simbólica. Foram construídos no século XVIII com um importante contributo dos mourenses. Que é o mesmo que dizer que foram feitos com o esforço e com a generosidade dos nossos antepassados. Foram os habitantes desta terra quem fez nascer este edifício. A eles pertence e pertencerá.

Gostaria de deixar uma palavra de apreço ao arq. Pedro Ângelo, da Câmara Municipal de Moura, que concebeu o projeto de reabilitação; ao eng. Vitor Vajão, que desenhou a iluminação do edifício; aos arqs. João Nunes e Carlos Ribas, da PROAP, que projetaram toda a zona envolvente aos Quartéis. Mas, acima de tudo e de todos, é importante recordar os que estiveram nesta terra antes de nós, que garantiram a conservação deste edifício e que permitiram que, trezentos anos após a sua construção, ele ainda aqui esteja. Os que mantiveram estes Quartéis, até há bem pouco tempo, não eram nem arquitetos, nem engenheiros, nem urbanistas, nem arqueólogos, nem presidentes de Câmara. Eram pessoas do povo desta nossa cidade. Que viveram nestes Quartéis em condições extremamente precárias e que, ainda assim, e provavelmente sem o saberem, foram os primeiros a respeitar a integridade do edifício e a permitir que ele tivesse resistido no tempo.

Chegamos aqui depois de um percurso de vários anos. Vale a pena recordar que este momento não é um acaso. É muito mais do que isso. Faz parte de um plano de recuperação da zona mais antiga da cidade, levado a cabo desde 2006. Fez e faz parte de um plano que tomou como elementos de trabalho edifícios em condições de serem reabilitados e que seriam, e foram, usados como ponto de partida e como ponto de chegada. Foi esse o plano traçado e concretiado pelas vereações de que fizeram parte Rafael Rodrigues, Maria José Silva e José António Oliveira. E eu próprio. É mais que justo referir aqui o nome de José Maria Pós-de-Mina. Pelo papel que teve como Presidente da Câmara ao longo desses anos. E pelo facto, politicamente relevante, de nunca ter regateado apoio a estes projetos. Estivémos sempre lado a lado neste caminho, num percurso solidário e de aprendizagem mútua. Nesse percurso que trilhámos encontramos o Jardim das Oliveiras, a igreja de S. Francisco, a Mouraria, o Convento das Beatas ou o Pátio dos Rolins. São sítios conhecidos de todos. São locais por onde passamos todos os dias. São os mesmos locais que os nossos avós e os nossos pais conheceram. São os mesmos sítios que aqui ficarão, no dia em que já tivermos partido. Mais importante do que todos nós é esta nossa querida cidade, as ruas e os largos onde vivemos e de que tanto gostamos.

Na placa que dentro de momentos irá ser descerrada e que irá assinalar este dia não consta nenhum nome. Isso é dispensável. A única referência que ali está é ao povo de Moura. Quando há dias me perguntavam se iria estar presente alguma pessoa importante nesta cerimónia respondi, com toda a convicção, “vão estar lá pessoas muito especiais; vão lá estar os mourenses”. Mantenho vivas toda a esperança e toda a confiança de que seremos capazes de honrar e continuar este legado tão especial. Abre-se agora espaço à criatividade dos que irão ocupar estes Quartéis. Os bares, os espaços comerciais, as sedes de associações são peças fundamentais numa área que se quer viva e dinâmica. Que será, disso estou certo, viva e dinâmica.


Até à data, infelizmente, ainda não conseguimos ter pronto o museu que tanto gostaríamos. Mas lá chegaremos. A recuperação do Matadouro, já com o fim mais à vista, permite-nos sonhar um pouco mais. Tenho presente uma expressão de José Mattoso, que foi meu professor, há mais de 20 anos. Referia-se ele à “infinita liberdade do espírito”. É essa infinita liberdade do espírito que nos levará mais além e mais longe. Faltam coisas? Faltam sempre mais coisas, porque é normal que queiramos sempre mais e melhor. Depois do Matadouro de Moura ainda há projetos a lançar? Há, não tenham dúvidas. Diziam-nos há dias que estamos a colocar a fasquia demasiado alta. Não estamos nada. Estamos a colocar a fasquia exatamente onde Moura merece. Nada mais. O que se segue? Agora segue-se o futuro. A conclusão da zona industrial em Moura e o lançamento de novas infraestuturas de apoio à atividade económica, na Amareleja. Seguem-se as habitações sociais no Pátio dos Rolins, a recuperação do Bairro do Carmo, a instalação da Biblioteca no antigo Grémio da Lavoura. Mais a conclusão do Paque de Leilão de Gado, o finalizar da obra da Ribeira da Perna Seca, no Sobral, mais a Ribeira de Vale de Juncos e o Pavilhão das Cancelinhas, na Amareleja. Tal como garantimos, há anos, que cumpririamos a reabilitação de imóveis como este, daremos agora espaço a outras intervenções. Já demonstrámos que não desistimos. Que não desistiremos. Espera-nos, ao virar da esquina, o futuro.

* * * * * * *

É devido um agradecimento muito particular, e tal como referi no início da intervenção, à Sociedade Filarmónica União Mourense Os Amarelos, ao Grupo Coral e Etnográfico do Ateneu Mourense, às Brisas do Guadiana e ao grupo musical Margem do Alqueva.

3 comentários:

Portugalredecouvertes disse...

no feriado do 10 de junho fomos passear a Beja foi muito agradável, muita tranquilidade, uma cidade acolhedora
infelizmente o museu regional fecha aos domingos e feriados! lá estava escrito! varias pessoas andavam à volta do monumento a tentarem perceber

Portugalredecouvertes disse...

relativamente a minha visita ao museu de Beja, penso que era também ao domingo que está fechado, mas seria de confirmar outra vez!
tive pena por não ter visitado o património de Beja

Anónimo disse...

Ora bem, pois se não conseguiram arranjar um nome apropriado para pôr na placa eu posso sugerir um; ora deixa ver, deixa ver, cá está, pode ser "Comendador Rondão de Almeida". Ficava catita.
PL