O tema "natureza morta" surge, a espaços, no blogue. Do ponto de vista profissional, usei estas pinturas como base de trabalho e para o estabelecimento de analogias.
Tinha uma carne de malmequeres, fina e translúcida,
com tênues veios de ametista, como o desenho sutil dos rios.
E ainda ficava mais branco, naquela varanda cheia de luar.
Os outros peixes nadavam gloriosos por dentro das ondas,
subiam, baixavam, corriam, brilhavam trêmulos de lua,
sem saberem daquele que não pertencia mais ao mar.
Deitado de perfil, em crespos verdes sossegados,
ia sendo servido, entre vinhos claros de altos copos,
envoltos numa gelada penugem de ar.
Seu olho de pérola baça, olho de gesso, consentia
que lhe fossem levando, pouco a pouco, todo o corpo...
E à luz do céu findava, e ao murmúrio do mar.
Cecília Meireles in Mar Absoluto
Em pesquisa recente, encontrei este poema de Cecília Meireles, intitulado natureza morta. O poema é dedicado a um jovem, se bem depreendo. Arranjei uma "alternativa", como forma de ilustração... Prefiro assim, se não se importam. Uma tela de Nathaniel Bacon (1585–1627), intitulada The Cookmaid with Still Life of Vegetables and Fruit (c. 1620-25) e que está hoje na Tate Gallery. É uma das raras obras que nos chegou deste artista.
Tinha uma carne de malmequeres, fina e translúcida,
com tênues veios de ametista, como o desenho sutil dos rios.
E ainda ficava mais branco, naquela varanda cheia de luar.
Os outros peixes nadavam gloriosos por dentro das ondas,
subiam, baixavam, corriam, brilhavam trêmulos de lua,
sem saberem daquele que não pertencia mais ao mar.
Deitado de perfil, em crespos verdes sossegados,
ia sendo servido, entre vinhos claros de altos copos,
envoltos numa gelada penugem de ar.
Seu olho de pérola baça, olho de gesso, consentia
que lhe fossem levando, pouco a pouco, todo o corpo...
E à luz do céu findava, e ao murmúrio do mar.
Cecília Meireles in Mar Absoluto
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