A minha primeira ida à Plaza Alta, em Badajoz, aconteceu em 1984. Muito provavelmente no mês de setembro. Acabara, feliciter et honorifice, a disciplina de Arqueologia Medieval. Começava a interessar-me, cada vez mais, pelo passado islâmico. No regresso de Madrid foi sem esforço que convenci o João a parar em Badajoz. Para ver a torre de Espantaperros, que só conhecia nos compêndios. Como tantas vezes me aconteceu na vida, o motivo principal passou a secundário e aquilo que não conhecia e me surpreendeu tornou-se uma imagem impressiva do sítio. Passei ao lado da célebre torre octogonal, cruzei um arco e entrei num sítio absolutamente espantoso: a Plaza Alta. As arcarias pós-renascentistas evocavam ao de longe a cidade de Évora. As paredes eram brancas e o conjunto tinham um ar de equilíbrio e sobriedade. O ambiente humano era vibrante: população cigana, barulhenta e que estacou ante os inabituais "turistas". Havia carros de burros e animais por toda a parte. Recordei as vilas marroquinas por onde passara em 1981. Fiz dois ou três slides (kodachromes de grande luminosidade que caí na asneira de emprestar) e segui caminho. A Plaza Alta era sítio mal afamado e de população marginal. Mas de singular beleza. Uma praça com alma e gente.
Regressei há tempos. Constatei, com desgosto, que tinha havido uma "reabilitação". A brancura dera lugar a uma fachada italianocoiso ou venezianocoiso ou algo assim... Não sei definir aqueles tons palatinos e o marchetado de cores, mas o aspeto geral é uma desgraça. A população de outrora desapareceu e recolheu a casa. A praça já não é deles, é nossa, dos turistas. A gentrificação pode ocorrer no sítio onde se vive, creio eu.
Fiz mais meia dúzia de imagens (FP 4 e HP 5, que é coisa de homens de meia-idade) de sombras e das arcarias que ainda resistem e saí.
Regressei há tempos. Constatei, com desgosto, que tinha havido uma "reabilitação". A brancura dera lugar a uma fachada italianocoiso ou venezianocoiso ou algo assim... Não sei definir aqueles tons palatinos e o marchetado de cores, mas o aspeto geral é uma desgraça. A população de outrora desapareceu e recolheu a casa. A praça já não é deles, é nossa, dos turistas. A gentrificação pode ocorrer no sítio onde se vive, creio eu.
Fiz mais meia dúzia de imagens (FP 4 e HP 5, que é coisa de homens de meia-idade) de sombras e das arcarias que ainda resistem e saí.
Antes
Depois
“La plaza tiene una torre,
la torre tiene un balcón,
el balcón tiene una dama,
la dama una blanca flor.
Ha pasado un caballero
-¡quién sabe por qué pasó!-
y se ha llevado la plaza,
con su torre y su balcón,
con su balcón y su dama,
su dama y su blanca flor”.
su dama y su blanca flor”.
Antonio Machado, pois claro. Não encontrei melhor poema sobre uma praça.
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