Retomo, com uma pequena mas substancial alteração, o título de um
belo filme de William Wyler, de 1946. A decisão de não continuar, comunicada em
carta ao PCP no passado dia 2 de março, coloca ponto final neste percurso político.
Fui candidato a órgãos autárquicos desde 1993, integrei primeiro a Assembleia
(1993/2005), depois a Câmara (de 2005 até hoje). Nunca, por um só momento, nem
mesmo nas ocasiões mais difíceis me arrependi da opção tomada. Afastei, quase
sempre com impaciência, frases que me eram dirigidas (continuam a não fazer
sentido coisas como “andas aqui a perder o teu tempo com isto”, “deixaste a
carreira universitária e agora já é tarde…” etc.). Repito o que há meses
escrevi: “(sou) um homem comum, que desempenha convictamente funções numa
autarquia do interior português. Que o faz com empenho e total entrega”.
Depois de oito anos na vereação, tomei posse como Presidente da
Câmara em 20.10.2013. Foram estes três anos e meio dos melhores da minha vida.
Voltaria a tomar as mesmas opções? Sim, a maior parte delas seguramente. Apesar das dificuldades externas e internas que foram sendo criadas.
Sem fundos comunitários e com menos meios que antes, que caminhos
tomar? Conferir ainda maior rigor à área financeira, diminuir dívidas, terminar
obras (Zona Industrial e Quartéis em 2014, Parque de Vale de Juncos e Matadouro
em 2015, Centro Náutico da Estrela, Parque de Leilão de Gado e Ribeira da Perna
Seca em 2016), intervir nas escolas, reequipar o parque de máquinas do Município,
dinamizar a economia local, foram algumas das áreas de intervenção. No fundo,
dar continuidade ao trabalho anterior, tornando-o mais próximo e mais personalizado.
Foi com prazer que me desloquei, com regularidade e intensidade, a
todas as freguesias. Ouvi frases simpáticas (“o presidente está em todas”) e
até divertidas (“não leve a mal, mas faz lembrar o Marcelo”). Foi interessante fazer
reuniões de câmara fora de portas (junto aos depósitos de água, em S. Lourenço,
na Herdade dos Machados, duas vezes na Feira do Livro, no Pavilhão das
Cancelinhas etc.). Tal como foi importante juntar às já existentes câmaras
abertas projetos como o MOURALUMNI, o Fórum 21, Um dia na presidência, os
Presidentes de Câmara do distrito no concelho de Moura, os prémios de mérito
escolar ou as colchas nas janelas. A proximidade aos mais novos foi linha de
conduta desde o primeiro dia. A amizade com os grupos de forcados é algo que me
marcará para sempre. O acompanhamento constante, quase obsessivo, da vida do
concelho, não me deixou por um só dia. Nos próximos meses encerram-se dossiês
como o do Campo Maria Vitória, do Pátio dos Rolins, da Ponte do Corinheiro e da
igreja de Safara.
Entreguei-me, com prazer, com profundo prazer, a esta tarefa. O
mesmo gosto que me deu concluir e concretizar intervenções é o mesmo que tenho
no lançamento de obras e projetos que serão terminados no futuro. Aí se incluem
a recuperação do antigo grémio, a Torre do Relógio (Amareleja), o futuro
terminal rodoviário, a reabilitação do Bairro do Carmo, a construção do novo
cemitério e a consolidação das muralhas modernas. Cá estarei, como cidadão
desde concelho.
Os próximos meses serão intensos e, do ponto de vista pessoal,
emotivos. Reitero o que há poucos meses disse numa cerimónia pública: " e uma
coisa tenho hoje a certeza. As soluções e a força estão em nós. Em todos nós.
Não há salvadores da pátria, nem profetas nem homens ou mulheres providenciais.
Estamos todos nós, com o nosso empenho, o nosso sentido de luta e a nossa
capacidade de concretização. Estamos nós e, como diz um velho amigo meu, a
‘infinita liberdade do espírito’. É a essa a minha firme convicção".
Que estes foram, por todas estas e muitas outras razões, dos melhores anos da minha vida, disso não tenho dúvidas. Em final de 2018 editarei um pequeno livro, onde se explica todo este percurso.
Crónica publicada hoje, em "A Planície".
State Road 64, no Novo México, na direção de Tres Piedras
Do início do poema Roads de Edward Thomas:
I love roads:
The goddesses that dwell
Far along invisible
Are my favorite gods.
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