Na página de José Correia Guedes, ex-comandante na TAP:
(...)
A aterragem foi relativamente suave mas a travagem parecia saída de um filme de porta aviões; em poucos metros o avião imobilizou-se com grande alarido e só aí percebi o que tinha acontecido.
Os passageiros reclamaram, cheios de razão, e pouco depois entrou a bordo o nosso saudoso Bruno, mecânico da escala do Funchal, com as piores notícias: "Comandante: tem dois pneus rebentados, um em cada trem principal. O voo de regresso vai atrasar."
Claro que a minha primeira reação iria direitinha para o copiloto "Já viste a merda que fizeste?" mas em vez disso decidi que o culpado deveria ser apenas eu e mais ninguém. Porque era o comandante (o comandante é SEMPRE responsável por tudo o que acontece no cockpit) e porque falhei numa das regras essenciais que ditam um bom CRM (Cockpit Resources Management) que é o X-monitoring, ou seja, a obrigação de os pilotos se monitorarem entre si.
A vergonha começou logo no Funchal ("Oh Comandante, então que foi isto?") mas continuou no dia seguinte quando fui chamado ao chefe de frota A320 para contar como tudo aconteceu. Em toda a minha carreira foi a única vez que me foram pedidas explicações a propósito de uma operação duvidosa mas devo dizer que para embaraço chegou.
O copiloto? Também foi chamado à chefia mas nada lhe aconteceu porque desde o princípio assumi todas as responsabilidades. Qualquer comandante digno desse nome faria exatamente a mesma coisa.
Os passageiros reclamaram, cheios de razão, e pouco depois entrou a bordo o nosso saudoso Bruno, mecânico da escala do Funchal, com as piores notícias: "Comandante: tem dois pneus rebentados, um em cada trem principal. O voo de regresso vai atrasar."
Claro que a minha primeira reação iria direitinha para o copiloto "Já viste a merda que fizeste?" mas em vez disso decidi que o culpado deveria ser apenas eu e mais ninguém. Porque era o comandante (o comandante é SEMPRE responsável por tudo o que acontece no cockpit) e porque falhei numa das regras essenciais que ditam um bom CRM (Cockpit Resources Management) que é o X-monitoring, ou seja, a obrigação de os pilotos se monitorarem entre si.
A vergonha começou logo no Funchal ("Oh Comandante, então que foi isto?") mas continuou no dia seguinte quando fui chamado ao chefe de frota A320 para contar como tudo aconteceu. Em toda a minha carreira foi a única vez que me foram pedidas explicações a propósito de uma operação duvidosa mas devo dizer que para embaraço chegou.
O copiloto? Também foi chamado à chefia mas nada lhe aconteceu porque desde o princípio assumi todas as responsabilidades. Qualquer comandante digno desse nome faria exatamente a mesma coisa.
História completa aqui: https://www.facebook.com/cptguedes/posts/400015010432539
Vem isto a propósito do facto de, no âmbito das minhas responsabilidades políticas ter assumido o princípio de dar o peito às balas. Um facto muito criticado por alguns amigos "és parvo, então o que andam lá a fazer os assessores, os chefes e os técnicos?". Nunca entendi essa perspetiva e sempre tive como princípio chamar a mim a responsabilidade do que correra menos bem. E, sempre, a prática de não atirar para cima dos trabalhadores o que quer que fosse. Muitas vezes o disse na Assembleia Municipal: "o responsável é o Presidente da Câmara". Poderá haver outras perspetivas. Seguramente que sim. Em especial, numa Câmara Municipal quem tem de dar a cara é o alcaide...
Faço minhas as palavras de José Correia Guedes: "O copiloto? Também foi chamado à chefia mas nada lhe aconteceu porque desde o princípio assumi todas as responsabilidades. Qualquer comandante digno desse nome faria exatamente a mesma coisa". É isto, sem tirar nem por.
1 comentário:
Fico encantado e honrado com a citação, que agradeço.
Tive a felicidade de passar a minha vida profissional em funções cujo grau de responsabilidade não deixa duvidas em ninguém. Acredito que em qualquer atividade, pública ou privada, terá de haver sempre um "comandante", alguém que dê a cara em quaisquer circunstâncias, boas ou más, sem hesitações. Nos aviões, como em muitos outros sectores de atividade, não há tempo para decisões colegiais muito embora as opiniões sejam bem vindas e necessárias. Porém no final será sempre o comandante o herói ou o vilão.
Pertenço aquelas pessoas que não acreditam em consensos (acordo em que todos perdem) e preferem ter sempre alguém a quem atirar uma pedra ou enviar um abraço de parabéns.
Finalmente, se me permite, não gosto da expressão "quando as coisas correm menos bem". As coisas ou foram bem feitas ou então foram uma grande merda; não há nada no meio.
Votos de um Feliz Natal com a esperança que seja em 2018 que vamos finalmente conhecer-nos "ao vivo e a cores". Teria muito prazer.
Um abraço
José Correia Guedes
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