Não faz sentido "pegar" na cidade antiga sem ser sob esta perspetiva. A da cidade global de outrora, que não é menos global hoje. Redescubro agora o sítio. Com o prazer do regresso a sítios há muito conhecidos. Próximas paragens (segunda e terça): a Direção Municipal de Cultura, o depósito de materiais arqueológicos do Rego, o Instituto de Ciências Sociais, a Associação de Turismo de Lisboa, o Museu do Aljube e a Assembleia Municipal. A Carris vai ter "prejuízo" comigo...
Entre a luz e o lioz, retomo velhos caminhos. Os meus e, muito mais importante, os da História.
O Terceiro Corvo
Oh Lisboa
como eu gostava de ser
o terceiro corvo do teu emblema…
estar implícita na tua bandeira
negra e branca
como tinta e papel
como escrita e espaço!
como eu gostava de ser
o terceiro corvo do teu emblema…
estar implícita na tua bandeira
negra e branca
como tinta e papel
como escrita e espaço!
Ser teu desenho
tua nova lenda
invenção deste século
que já não inventa
e se interroga:
donde vieram estes corvos?
tua nova lenda
invenção deste século
que já não inventa
e se interroga:
donde vieram estes corvos?
Como tu, Vicente,
eu também não sou de cá
não sou daqui
não pertenço a esta terra
e talvez nem sequer a este mundo…
eu também não sou de cá
não sou daqui
não pertenço a esta terra
e talvez nem sequer a este mundo…
Porém estou aqui
nesta dolorosa praia lusitana
cheia de um tumulto inútil
que enegrece as tuas areias
e polui o ventre do rio
que os golfinhos há muito desertaram
nesta dolorosa praia lusitana
cheia de um tumulto inútil
que enegrece as tuas areias
e polui o ventre do rio
que os golfinhos há muito desertaram
E olhando as nuvens dedilhadas pelo vento
sentindo a terna dor do teu sentir sentido
peço-te, Lisboa:
surge de novo bela
reinventa
a santidade perdida do teu emblema
sentindo a terna dor do teu sentir sentido
peço-te, Lisboa:
surge de novo bela
reinventa
a santidade perdida do teu emblema
Ana Hatherly (1929-2015)
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