quarta-feira, 5 de setembro de 2018

PENÉLOPE EM PATERNA

Mergulhado na cerâmica de Paterna (uma localidade que fica cinco quilómetros a noroeste de Valência e que foi um centro oleiro de extraordinária importância na Idade Média), vou avançando em leituras, paralelos e tipologias. Não é tanto este "regresso ao passado" que é a melhor parte da investigação, mas sim o facto de permitir (mais) uma releitura do estatuto social das minorias muçulmanas.

A tese inédita de Anna McSweeney apresenta uma extenso catálogo de materiais, quase todos recolhidos no Museo Nacional de Ceramica y de las Artes Suntuarias Gonzalez Marti, em Valência. Muitas das peças apresentam padrões gráficos, como se de tapetes se tratasse. Foram alguns desses desenhos que recolhi. Que fiz e refiz, ao jeito da manta de Penélope. Que é o tema de um bonito e sugestivo poema de David Mourão-Ferreira.

Site do Museu - http://www.mecd.gob.es/mnceramica/home.html


PENÉLOPE

Mais do que um sonho: comoção!
Sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.

E recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.

Mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.

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