Nunca tinha ouvido falar disto. O vídeo chegou-me há dias, remetido por Isabel Gaivão, uma amiga de Safara. O que vi deixou-me estupefacto. Numa paupérrima localidade do Paraguai, Cateura, os miúdos aprendem música, com objetos feitos a partir do lixo. Fui depois à procura de informação e percebi que o desenvolvimento do projeto teve contornos menos poéticos e que houve coisas tristes. Essa parte já não me surpreendeu. Tantos projetos que vi começar poeticamente, para depois sucumbirem na vaidade e na ambição...
Em todo o caso, o que aqui interessa são palavras como vontade, superação, esforço, determinação. Os miúdos constroem, tocam e falam do poder da música como elemento transformador. Não se queixam, não reclamam porque não há ar condicionado ou porque a estante está partida. Há uns oito anos, em Igarassu, muito perto da linha do Equador, assisti a uma cena notável. Numa manhã quente e muito húmida, vejo sair um homem ainda jovem sair de uma modesta Casa das Artes. Vinha com umas partituras na mão e disse, para dentro, "vamo' lá pra fora, que aqui num dá". O grupinho de adolescentes, uns seis ou sete, seguiu-o ordeiramente, com estantes, cadeiras, instrumentos e partituras. Foram para o outro lado da rua e instalaram-se, debaixo de uma árvore. A aula começou. Tocavam um choro. Não é a minha área, mas pareceu-me que tocavam lindamente. Sobretudo, estavam com um ar sorridente e transmitiam felicidade. Fiquei por ali um pouco, mais interessado naquele concerto, no meio do calor, que na pinacoteca.
Imaginei-me em Moura. E imaginei a trovoada de reclamações, quase sempre da parte de alguns pais "ó, sô vereador, quando é que temos aqui um ar condicionado a funcionar como deve ser?", "não há umas almofadas? quando é que esta câmara dá condições para as crianças aprenderem?", "ó sô vereador, está um sol que não se pode e nem um sítio para estacionar o carro...", "quando é que a câmara arranja um subsídio para novos instrumentos? as câmaras xis e ípsilon pagam TUDO". Etc. Vivi situações destas e outras ainda mais confrangedoras. E quando penso naquilo que, um vários sítios, fui vendo, mais me convenço do que é crucial. Coisas como vontade, superação, esforço, determinação, humildade, abnegação. E também palavras como alegria, sonho, imaginação.
Cateura fica a 8.780 quilómetros de Moura. Igarassu está a 5.850.
Em todo o caso, o que aqui interessa são palavras como vontade, superação, esforço, determinação. Os miúdos constroem, tocam e falam do poder da música como elemento transformador. Não se queixam, não reclamam porque não há ar condicionado ou porque a estante está partida. Há uns oito anos, em Igarassu, muito perto da linha do Equador, assisti a uma cena notável. Numa manhã quente e muito húmida, vejo sair um homem ainda jovem sair de uma modesta Casa das Artes. Vinha com umas partituras na mão e disse, para dentro, "vamo' lá pra fora, que aqui num dá". O grupinho de adolescentes, uns seis ou sete, seguiu-o ordeiramente, com estantes, cadeiras, instrumentos e partituras. Foram para o outro lado da rua e instalaram-se, debaixo de uma árvore. A aula começou. Tocavam um choro. Não é a minha área, mas pareceu-me que tocavam lindamente. Sobretudo, estavam com um ar sorridente e transmitiam felicidade. Fiquei por ali um pouco, mais interessado naquele concerto, no meio do calor, que na pinacoteca.
Imaginei-me em Moura. E imaginei a trovoada de reclamações, quase sempre da parte de alguns pais "ó, sô vereador, quando é que temos aqui um ar condicionado a funcionar como deve ser?", "não há umas almofadas? quando é que esta câmara dá condições para as crianças aprenderem?", "ó sô vereador, está um sol que não se pode e nem um sítio para estacionar o carro...", "quando é que a câmara arranja um subsídio para novos instrumentos? as câmaras xis e ípsilon pagam TUDO". Etc. Vivi situações destas e outras ainda mais confrangedoras. E quando penso naquilo que, um vários sítios, fui vendo, mais me convenço do que é crucial. Coisas como vontade, superação, esforço, determinação, humildade, abnegação. E também palavras como alegria, sonho, imaginação.
Cateura fica a 8.780 quilómetros de Moura. Igarassu está a 5.850.
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