Vem
este texto a propósito da recentemente inaugurada exposição no antigo
matadouro. Utilizando materiais da coleção do Museu Municipal, peças de
escavações arqueológicas e réplicas do Museu Nacional de Arqueologia, é
apresentada uma panorâmica dos achados arqueológicos no nosso concelho.
É um trabalho de grande mérito de quem
se encarregou do comissariado da exposição, José Gonçalo Valente e Marisa
Bacalhau. Raramente
é possível, por limitação alheia aos comissários, ter materiais de excecional
qualidade para todos os períodos históricos. Moura tem a “sorte” (e essa sorte
tem muito a ver com a riqueza agrícola e mineira do seu território) de ter uma
importante ocupação humana desde a Pré-História. Hesíodo escreveu, na Teogonia (e isso foi há
quase 3.000 anos...) sobre “as Hespérides que guardam belos frutos em ouro e as
árvores que os sustentam, para lá do famoso oceano”. Os metais da Ibéria terão
criado este Jardim das Hespérides. Sem eles, não teríamos os belos materiais
que “Moura Arqueológica” nos mostra, em especial para épocas mais recuadas.
É um trabalho seguro e de grande
qualidade, aquele que Marisa Bacalhau e José Gonçalo Valente construíram. É
também a oportunidade para revermos muito bons materiais, nem sempre conhecidos
da nossa terra. O thymiaterion e o tesouro do Álamo, pertencentes ao
Museu Nacional de Arqueologia, podem ser vistos através de réplicas. Os botões
em ouro do Castro dos Ratinhos são uma novidade absoluta, por nunca terem
estado expostos. Trazem-se para este contexto explicativo um fragmento cerâmico
que refere uma igreja do século VII (Santa Maria Lacantensis), hoje
desaparecida, e a lápide fundacional do minarete da mesquita de Moura, de
meados do século XI. Os materiais são o suporte necessário de uma exposição.
Mas não chegam para construir um percurso. Daí que a linha de tempo construída
pelos responsáveis pela exposição seja fundamental para se perceber o contexto
em que nos movemos. Resultou bem, e daí as coisas se tornarem claras.
Por um princípio que, em tempos e por
várias vezes, discuti com a Marisa e com o José, não sou grande adepto das
chamadas abordagens diacrónicas ou de sucessão temporal. Mas isso é aqui o que
menos interessa. Fundamental mesmo é ver a exposição e ver que há profissionais
como Marisa Bacalhau e como José Gonçalo Valente que fazem falar as coisas do
passado, em nome da nossa terra.
Esta Moura partiu da arqueologia e
fez-se um belo museu. Quem havia de dizer?...
Crónica em "A Planície"
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