quarta-feira, 19 de março de 2025

XADREZ E DIPLOMACIA

A recente conversa Putin/Trump sobre a Ucrânia, que desandou para um possível jogo de hóquei sobre o gelo entre russos e americanos trouxe-me à memória um episódio ocorrido no século XI e relatado por al-Marrakushi, na "História dos Almóadas". Ante o avanço de Afonso VI sobre o sul, Ibn Amar desafiou-o para uma partida de xadrez. Afonso VI, hesitava... Sigamos a tradução de António Borges Coelho, em "Portugal na Espanha Árabe":

Como a recordação do xadrez obsessionava o príncipe, consultou os seus favoritos sobre as condições que Ibn Amar queria impor-lhe.

- É coisa pouca, responderam. - Se ganhares, terás o xadrez mais formoso que um rei pode possuir. Se perderes, que pode pedir um adversário teu que um rei como tu não possa cumprir? E se exigir uma coisa impossível, não estamos nós prontos a pormo-nos do teu lado para o fazer entrar na razão?

Insistiram com tanto êxito que Afonso mandou vir Ibn Amar com o seu xadrez e disse-lhe que aceitava as suas condições.

(...) Ibn Amar era um tal jogador que ninguém lhe podia ganhar no Andaluz. E ante os olhos dos seus adversários bateu completamente o seu adversário. Quando o resultado da partida não ofereceu dúvidas, Ibn Amar disse:

- Ganehi o que tínhamos combinado?

- Sem dúvida. O que pedes?

- Que saias desta terra e entres na tua.

(...)

Exigiu, no entanto, que naquele ano pagassem o dobro do tributo ordinário.

Uma história exemplar. Que vemos repetida, com outros contornos.

A imagem é das "Cantigas de Santa Maria"


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