Larguei o volante com um suspiro de alívio. Eram duas da manhã e acabava de desligar o motor do Renault. No parque de estacionamento do el-Djazair o silêncio era total. Saí do carro e caminhei para o hotel. Horas antes nada fazia prever a insólita soirée naquele Outono em Argel.
Encontrara-me com o meu amigo Boussad Ouadi num restaurante acima do boulevard Mohamed Khemisti. Conhecera-o uns anos antes em Berlim. Um indivíduo interessante, editor e proprietário da melhor livraria de Argel. O projecto sobre a arte islâmica no Mediterrâneo aproximava-se de uma fase crucial. Era preciso escolher fotografias, colaboradores, entidades a envolver, locais de apresentação de resultados. Aquilo que se chama “jantar de trabalho”… Nem muito curto nem demasiado regado…
Mal tínhamos feito a segunda curva a caminho do hotel quando uma brigada da polícia nos obrigou a parar. Papéis para aqui, papéis para li, o Boussad com a carta caducada e aí vamos nós a caminho da esquadra, devidamente escoltados por duas viaturas. O Boussad entra na esquadra e eu fico dentro do carro, numa rua do centro de Argel. Há pouca luz na via pública e não se vê vivalma. Passo pelas brasas. Quando acordo tinha decorrido mais de uma hora.
Mais um bocado e decido-me a sair do carro. Vejo Boussad a sair da esquadra com cara de poucos amigos. “A multa é o menos”, desabafa. “O pior foi o chefe da polícia estar completamente bêbado. Quando viu a minha profissão, editor, começou a declamar poesia. Esteve nisto mais de um hora!”. Entramos no carro para pararmos uns quilómetros mais adiante. Aí o Boussad, de novo jovial, passa-me a viatura: “Meu velho, sabes onde é o hotel, desenrasca-te. Traz o carro inteiro para a livraria e nada de miúdas aqui dentro.” Senti um calafrio. Não tinha carta de condução válida e as barreiras policias eram ainda comuns em Argel. Cruzei-me apenas com uma, na rotunda onde se juntam o Bd. Salah Bouakouir, a Rua Didouche Mourad e a Av. Franklin Roosevelt. Olharam-me pouco interessados e mandaram o carro seguir. Por uma vez passei por argelino...
Encontrara-me com o meu amigo Boussad Ouadi num restaurante acima do boulevard Mohamed Khemisti. Conhecera-o uns anos antes em Berlim. Um indivíduo interessante, editor e proprietário da melhor livraria de Argel. O projecto sobre a arte islâmica no Mediterrâneo aproximava-se de uma fase crucial. Era preciso escolher fotografias, colaboradores, entidades a envolver, locais de apresentação de resultados. Aquilo que se chama “jantar de trabalho”… Nem muito curto nem demasiado regado…
Mal tínhamos feito a segunda curva a caminho do hotel quando uma brigada da polícia nos obrigou a parar. Papéis para aqui, papéis para li, o Boussad com a carta caducada e aí vamos nós a caminho da esquadra, devidamente escoltados por duas viaturas. O Boussad entra na esquadra e eu fico dentro do carro, numa rua do centro de Argel. Há pouca luz na via pública e não se vê vivalma. Passo pelas brasas. Quando acordo tinha decorrido mais de uma hora.
Mais um bocado e decido-me a sair do carro. Vejo Boussad a sair da esquadra com cara de poucos amigos. “A multa é o menos”, desabafa. “O pior foi o chefe da polícia estar completamente bêbado. Quando viu a minha profissão, editor, começou a declamar poesia. Esteve nisto mais de um hora!”. Entramos no carro para pararmos uns quilómetros mais adiante. Aí o Boussad, de novo jovial, passa-me a viatura: “Meu velho, sabes onde é o hotel, desenrasca-te. Traz o carro inteiro para a livraria e nada de miúdas aqui dentro.” Senti um calafrio. Não tinha carta de condução válida e as barreiras policias eram ainda comuns em Argel. Cruzei-me apenas com uma, na rotunda onde se juntam o Bd. Salah Bouakouir, a Rua Didouche Mourad e a Av. Franklin Roosevelt. Olharam-me pouco interessados e mandaram o carro seguir. Por uma vez passei por argelino...
Montra da Librairie des Beaux-Arts
Boussad Ouadi
A Librairie des Beaux-Arts fica na Rua Didouche Mourad, 28. Ali passava parte dos seus dias o escritor Albert Camus. À porta da livraria assassinaram o seu proprietário, Vincent Grau, em 21 de Fevereiro de 1994, na altura da maior escalada do terror. Ao consultar a net dei-me conta que há problemas legais em torno do arrendamento e que o establecimento corre o risco de fechar. Há um movimento no facebook intitulado "Contre la fermeture de la libraire des Beaux-Arts à Alger".
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