Tioria = teoria de um tio.
O artigo, Temos maus professores, de Alexandre Homem Cristo, saiu no Observador, em agosto, mas na altura não reparei nele. Foi-me enviado hoje. Causou, na altura, reações furibundas no site do jornal. Há, agora, comentários ácidos no facebook.
Eis um excerto da prosa:
Portugal tem maus professores. E não é por acaso: é fácil tornar-se professor. Por um lado, veja-se que, enquanto os cursos mais prestigiados mantêm notas de acesso ao ensino superior bastante elevadas, nos cursos de ciências da educação acontece o inverso. Na Universidade de Lisboa, por exemplo, o último aluno a ingressar no curso, em 2013, teve a classificação de 10,9. Ou seja, dito de forma clara: quem hoje vai para professor não são os bons alunos. Por outro lado, quem hoje frequenta os cursos da área da educação são, em média, os que têm níveis socioeconómicos mais baixos e que, por isso, obtêm mais bolsas de acção social. De acordo com os dados para o ano lectivo 2010/2011, 41% dos estudantes desta área de estudos obteve bolsa. Foi a percentagem mais elevada entre todas as áreas de estudos – ou seja, em nenhuma área há uma concentração tão grande de estudantes com baixo nível socioeconómico.
Assim, em termos gerais, quem quer ser professor são os piores alunos, os mais pobres e os menos cultos. Há excepções, e ainda bem. Nos cursos e, sobretudo, nas escolas, onde a regra, felizmente, ainda é a existência de muitos bons e dedicados professores. Mas o perfil médio dos actuais cursos de ensino é este: são alguns dos piores das gerações do presente que estão nas escolas a preparar as gerações do futuro.
Sit-in queque, em protesto contra a entrada de pobres nas escolas
Não fiquei irritado. A reação de Alexandre Homem Cristo é compreensível. É o 24 de abril em toda a sua magnificência. É o elogio do elitismo e das escolas exclusivas e endogâmicas.
Neto de um cabo da GNR e de uma doméstica, que era analfabeta, filho de funcionários públicos de baixa patente, entendo bem a tioria de A. Homem Cristo. Os meus estudos, como de tantos na minha geração são fruto direto da Democracia. E das bolsas e apoios sociais. Antes do 25 de abril, nunca me teria sido permitido o percurso que fui fazendo. Graus académicos e presidências de câmara eram acessíveis a uma casta. A verdade é essa. E é isso que custa a engolir aos homens cristos deste nosso Portugal.
Ah, já agora: tive maus professores, mas os bons e os excelentes foram muitos mais.
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