"Karamanlis ou os blindados", proclamava-se em Atenas, em 1974. Ou seja, se a Nova Democracia não ganhasse as eleições, regressaria a ditadura. Konstantinos Karamanlis (1907-1998) acabou por liderar o processo de democratização da Grécia.
Samaras tentou a tática do medo, pintando o Syriza de vermelho. Agitaram-se espantalhos norte-coreanos. Já se imaginavam os jovens gregos desfilando na Praça Syntagma, cantando em coro "é tão bela a nossa vermelha Acrópole"...
Caaaaalmaaaa... Não vai acontecer nada de substancial. Tsipras vai dar uma de realpolitik. O resto são coisas que dão para umas momentâneas excitações noticiosas e nada mais.
Texto de Miguel Esteves Cardoso, no "Público":
Hoje é um dia importante. Espero
que o partido Syriza ganhe as eleições com maioria absoluta. Alexis Tsipras é
inteligente, corajoso, grego e europeu: não quer que a Grécia deixe de usar o
euro.
Se ganhar com maioria, fará
frente à União Europeia e defenderá uma união financeira que ajudará os países
mais pobres, como Portugal.
Portugal não pode continuar a
fingir que é diferente da Grécia. Não é. A Espanha, maior, também sabe que faz
parte do mesmo grupo do savoir vivre que inclui a Itália inteira e quase
toda a França.
A verdade é que existe — e
sempre existiu — uma Europa do Sul, em que cada país se dividiu, inutilmente,
entre Norte e Sul.
Se o Syriza ganhar (ou perder),
devemos abraçá-lo e solidarizarmo-nos com ele. As eleições nacionais são a
última afirmação da escolha política.
Poderia haver na Grécia um
partido que, ao contrário do Syriza, quisesse sair do euro e voltar ao drachma,
poupando biliões. Até há. Mas não têm hipótese de ganhar.
Os poderes do Norte da União
Europeia querem dividir-nos e obrigaram-nos a competir entre nós, para
descobrirmos quem é o escravo mais cumpridor.
Não há maior beleza do que a
união política dos pobres e devedores. Obrigarmo-nos a ser de direita ou de
esquerda é a mais horrenda manobra divisionista.
Hoje é domingo e a eleição na
Grécia atira-nos para o silêncio. Isso é que era bom. Hoje queremos que ganhe o
Syriza e, por conseguinte, as opiniões portuguesas que ainda sonham com um
mínimo de liberdade.
Assim seja.
Sem comentários:
Enviar um comentário