É, para todos nós, "a santa". O arranjo é típico de um certo exotismo ao gosto do Estado Novo. Não se trata de uma santa, mas de uma mulher retratada ao gosto oriental. O penteado, as tranças, o manto a cobrir a cabeça, as arrecadas, as pulseiras, remetem para o Levante. A palavra Levante é hoje politicamente incorreta. Tal como o são as palavras exótico ou gosto oriental. Passemos adiante e celebremos a nossa santa, mais profana que espiritual...
Sonho Oriental
Sonho-me às vezes rei, n'alguma ilha,
Muito longe, nos mares do Oriente,
Onde a noite é balsâmica e fulgente
E a lua cheia sobre as águas brilha...
O aroma da magnólia e da baunilha
Paira no ar diáfano e dormente...
Lambe a orla dos bosques, vagamente,
O mar com finas ondas de escumilha...
E enquanto eu na varanda de marfim
Me encosto, absorto n'um cismar sem fim,
Tu, meu amor, divagas ao luar,
Do profundo jardim pelas clareiras,
Ou descanças debaixo das palmeiras,
Tendo aos pés um leão familiar.
Antero de Quental
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