No início de 2005 tinha comunicado aos meus camaradas da CDU que não iria continuar na vida política local. Tinha a tese de doutoramento em fase de conclusão, tinha vários projetos a andar e queria recentrar a minha atividade. A carreira universitária parecia ser uma hipótese interessante. Depois de 12 anos na Assembleia Municipal era tempo, pensava eu, de mudar de vida.
No dia 20 de fevereiro, aconteceu algo inesperado. O Partido Socialista ganhou as eleições legislativas, com larga vantagem. No concelho de Moura, os resultados foram folgadíssimos: mais de 3000 votos de diferença, deixando a CDU a quase 40 pontos (!) percentuais. Depois de uns dias de hesitação, fui ter com o José Maria Pós-de-Mina e tive uma daquelas saídas romântico-quixotescas que muito caro me têm custado na vida... Disse-lhe algo como "estou disponível para integrar a lista para a Câmara; se isto está mau e vamos perder a Câmara, vou contigo; ponham-me aí em quarto lugar". O José Maria, habituado às minhas pequenas manias, riu muito, não deu saída e disse algo como "não perdemos nada, depois logo falamos".
Os meses passaram, o PS apresentou um candidato sério (a todos os níveis), que, singularmente, "não colou". Depois do doutoramento, regressei a Moura para mais uma campanha de escavações arqueológicas. O José Maria, mavioso, foi-me empurrando lista acima. Quando dou por mim, sou o número 2... Tranquilizei a domus mertolense "não há crise, isto é só uma questão de honra, não deixo os amigos sozinhos nesta altura". Não queria que o PS ganhasse as eleições por razões de ordem política e ética. Depois do combate feito ao projeto da central fotovoltaica, achava uma indecência que não fosse o José Maria a terminar aquela caminhada. Durante a campanha eleitoral, achava-o estranhamente tranquilo. E os contactos com a população e com as entidades corriam muito bem. Eu, expatriado em Mértola há quase 15 anos, era tratado com afeto. Os colegas de lista, o Rafael e a Zeza, eram velhos amigos. Tudo aquilo me parecia estranho.
Em plena campanha eleitoral, faltou a água. O Ardila secou e a água não chegava às torneiras. Pensei "isto está mais que arrumado... vamos perder". Mas a campanha continuava, festiva e convicta. No debate decisivo, o José Maria, preparadíssimo e impiedoso, derrotou claramente o adversário. Eu continuava, quixotesco, a dizer em casa "é uma questão de honra e não se deixam cair os amigos". Uma velha amiga sentenciou "com essa lista ganham à vontade".
Na noite das eleições surpreendo-me com os resultados. No final, 534 votos de vantagem (que correspondiam a quase 7 pontos percentuais). Acabava de ser eleito e assumiria, de seguida, a vice-presidência da Câmara Municipal de Moura.
A minha vida tornou-se uma imprevista e imprevisível sucessão de zigue-zagues. Moura nunca saiu, nem sairá, do meu horizonte. Esteja eu onde estiver. Em 2009 pensava ter fechado este capítulo. Em 2012 também. Em fevereiro de 2013 assumi, com convicção e calor, a missão de ser candidato à Câmara de Moura. Não me arrependi. Não me arrependerei. O caminho continua a ser em frente.
As eleições autárquicas de 2005 foram no dia 9 de outubro. Faz hoje 10 anos.
Este post é para ti, José Maria. E para ti, Zeza. E para ti, Rafael. E para ti, José António. E para ti, José Gonçalo. E para ti, Céu. E para ti, Quim Toi. E para ti, Manuel Ramalho. E para ti, José Manuel Godinho. E para ti, José Armelim Fialho. E para ti, Helena. E para ti, Manuel Filipe. E para ti, Ana Caeiro. E para ti, Antónia. E para ti, Bruno. E para todos os camaradas que, com convicção e sem interesses pessoais, abraçam as causas da nossa terra.
O bolero não tem a ver com a política? E daí? Tem a ver com dez anos e com a passagem do tempo. E, efetivamente, gosto de boleros e de Gal Costa.
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