quinta-feira, 15 de outubro de 2015

PURITANISMO MAIS QUE MERIDIONAL

O Procurador do Amor

Amor, a quanto me obrigas. 
De dorso curvo e olhar aceso, 
troto as avenidas neutras 
atrás da sombra que me inculcas. 

Esta sombra que se confunde 
com as mulheres gordas e magras, 
entra numa porta, sai por outra 
como nos filmes americanos, 
e reaparece olhando as vitrinas. 

Meu olhar desnuda as passantes. 
Às vezes um bico de seio 
vale mais que o melhor Baedeker. 
Mas onde seio para minha sede? 

O andar, a curva de um joelho, 
vinco de seda no quadril 
(não sabia quanto eras pura), 
faço a polícia dos dessous

Eu sei que o êxtase supremo, 
looping no céu espiritual 
pode enredar-se, malicioso, 
no que as mulheres mais (?) escondem 
no que meus olhos mais indagam. 

O dia se emenda com a noite 
As mulheres vão para a rua 
mas a mulher que tu me destinas 
talvez ainda esteja em Peiping. 

Desiludido ainda me iludo. 
Namoro a plumagem do galo 
no ouro pérfido do coquetel. 
Enquanto as mulheres cocoricam 
os homens engolem veneno. 

E faço este verso perverso 
inútil, capenga e lúbrico. 
E possível que neste momento 
ela se ria de mim 
aqui, ali ou em Peiping. 

Ora viva o amendoim.


Um anúncio, com quatro mulheres de beleza pouco formal, causou uma tempestade na Austrália. Chegou a pronunciar-se a palavra por-no-gra-fia (deve ter sido soletrada assim, e tudo). Sempre achei imensa graça ao puritanismo. Normalmente, soa a falso. É, quase sempre, sinónimo de hipocrisia. Aqui fica o post do dia. Com a beleza da mulher e as palavras, não menos belas, de Carlos Drummond de Andrade.

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