quarta-feira, 29 de abril de 2020

AMORAS

Há muitos dias que não saía de casa. Foram 40, para ser preciso.

Ontem e hoje quebrei essa rotina. Quebrámos, em dueto solitário. Até ao Além-Rio, depois junto à Achada de S. Sebastião. Subitamente, "olha, amoreiras com amoras". As amoreiras em frente à escola costumam estar varridas. A rapaziada da escola trata delas. Tanto melhor para eles. Agora, sem escola, nem clientes, as amoreiras estão bem compostas. Regressei a outros tempos e a outros sítios. As amoras não se apanham, por cá, como no quadro de Elizabeth Forbes (1859-1912). Pouco importa. O que conta é o gesto e o momento. Ontem pintalguei, convicto e feliz, uma camisa. Em certas alturas, a felicidade momentânea está nos ramos de uma amoreira.


You ate that first one and its flesh was sweet
Like thickened wine: summer's blood was in it
Leaving stains upon the tongue and lust for
Picking, como no poema de Seamus Heaney.

Sem comentários: