Eram 21:14. A Rotunda de Pina Manique estava mais que deserta. A 500 metros de casa parecia viver numa cidade-fantasma. Passou um carro, depois outro, depois outro ainda, depois o 50, a caminho do Oriente, só com o motorista. O cenário merecia melhor aparelho e, sobretudo, melhor fotógrafo.
Para trás ficava um dia longo. Ainda tive de regressar às Amoreiras, recolher uma jovem amiga que estuda francês. Não resisti a provocar "podias ter escolhido o latim, também é uma língua morta...". Ignorou a brincadeira e seguiu em frente. Agora, vamos ser colegas de turma no estudo de um outro idioma.
Seguiu as minhas tentativas fotográficas com sardónica desconfiança. Voltámos ao carro dois minutos volvidos. Continuava a não se ver ninguém. A segunda vaga da pandemia vive-se em ambiente opressivo. O sentimento de impunidade e de invulnerabilidade deu lugar ao medo. Vai ser assim por muitos meses.
BROUILLARD
Le brouillard me fait peur !
Et ces phares – yeux hurlant de quels monstres
Glissant dans le silence.
Ces ombres qui rasent le mur
Et passent, sont-ce mes souvenirs
Dont la longue file va-t-en pèlerinage ?…
Le brouillard sale de la Ville !
De sa suie froide
Il encrasse mes poumons qu’a rouillés l’hiver,
Et la meute de mes entrailles affamées vont aboyant
En moi
Tandis qu’à leurs voix répond
La plainte faible de mes rêves moribonds.
Léopold Sédar Senghor (1906-2001)
Sem comentários:
Enviar um comentário