Li hoje um importante e sentido texto de Eunice Tiago. Conheço bem a família da Eunice, que é da Póvoa da S. Miguel, e sou amigo de muitos dos seus parentes. Um deles contou-me, há não muitos meses, os ataques e as piadas racistas que sofreu, quando estudava na Secundária de Moura. Fu que fui buscar ao instagram e aqui reproduzo, ipsis verbis:
São os ciganos agora, mas há 44 anos atrás, se com o meu avô tem vindo metade da minha família negra para a Póvoa S. Miguel não seriam os ciganos, mas seriamos nós, os pretos.
Porque lá está , tem que haver um bode expiatório.
O meu avô é branco e a minha família paterna direta é 50% negra e 50% branca. A minha mãe também é "branca", mas toda a vida fomos os pretos.
Eu sou filha do Luís preto (que muito me orgulho), os meus primos são filhos do X preto.
Não somos filhas da Manuela...somos filhas da Manuela que está casada com o Luís preto.
É duro pessoas, mas é isto.
Nós damos de barato, porque " há não é por mal".
Pessoas: por bem não é. Já é hora de pararmos com estes epítetos raciais. Acho eu. Não sei...
Já agora o nosso apelido é Tiago.
E tenho muitas mais histórias de quando os meus avós chegaram à Póvoa depois da guerra, que vos arrepiavam os cabelos.
Mas vamos ás que eu vivi:
O meu filho nasceu branco, é loiro.
Ás vezes em tom retórico (porque não creio que esperem resposta a este tipo de perguntas) dizem-me: "aiii o menino tão branquinho, não sai à mãe, não?" ao que respondo em tom de ironia e escárnio "pchiuuu, pulei a cerca! Não contem ao pai dele." E as pessoas riem-se, mas não se mancam.
Numa feira de Natal, há cerca se 1 ano, uma senhora da Póvoa que conheço (com uns 50 e poucos anos) disse-me:
"aiii tão lindo o menino, ainda bem que nasceu branco."
Ao que indaguei incrédula: "então porquê Dna não sei das quantas?! eu gostava muito que ele fosse molatinho se tivesse que ser."
Ao que ela responde:" cá agora! O rapaz havia de ser mais bonito preto não?!"
Eu achei que não valia a pena a conversa...Quem estava comigo e presenciou isto, só olhou para o chão também sem querer acreditar nesta conversa.
Ofensas comuns, não fazem muito parte do meu reportório de criança/adolescente. Para me ofender (pensavam) bastava o preta de merda ou preta do caralho, volta para tua terra.
Eu nasci aqui, sou tão portuguesa como outro português qualquer.
Posso contar muitas mais...mas por agora CHEGA!
Mais explícito não podia ser.
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