Quando me enviaram, há dias, a imagem do telhado da igreja de Nossa Senhora da Estrela fui tomado por uma sensação de profunda tristeza. Ou de desalento, nem sei bem.
A fotografia, feita há dias a partir de um drone, mostrava o telhado da igreja num estado absolutamente miserável. Ervas e mais ervas, causando danos ao imóvel. Conheço bem a igreja da Estrela, tal como conheço o seu processo de reabilitação. Até 2013, os estrelenses recusaram-se a usar a igreja. A obra estava por terminar e os habitantes achavam, com razão, que aquela não era a sua igreja.
Contactos sucessivos com a EDIA não deram em nada. A determinada altura entrou em cena a Câmara Municipal. Que se sentiu na obrigação de assumir o custo da obra que ainda falta fazer. No dia 17 de janeiro de 2013 assinou-se o contrato para concluir a obra da igreja, custo que foi assumido pela autarquia. No dia 28 de julho do mesmo ano a procissão saiu finalmente da igreja, durante a festa da aldeia. Em abril de 2013, em plena obra, a igreja tinha passado ao estatuto de monumento classificado.
Em 2015, o PS chumbou um pedido de empréstimo para que se concluísse a reabilitação da igreja. Desconheço o que mais fizeram, desde outubro de 2017, e até hoje, no imóvel.
Esta história pouco exemplar revela tudo o que têm sido os últimos seis anos e quatro meses. Muita propaganda, muitos protocolos assinados, promessas às mãos cheias. Quase nada de obras, quase nada de concretizações de fundo, para além do que vinha do passado. Miragens e mais miragens, a praia e a estação náutica e o hotel de cinco estrelas no Carmo. Valha-lhes aquilo que a CDU concretizou no passado e que serve de cartão-de-visita turístico do concelho. Valha-lhes isso.
Sempre tivemos como claro (refiro-me a todos os executivos camarários em que trabalhei) que devemos sempre pensar na resolução dos problemas em termos de futuro. Sempre achámos que, com os escassos recursos financeiros existentes, importa que os mesmos sejam usados em investimentos com retorno e não apenas aplicados em espetáculos sem qualquer consequência no futuro e na melhoria de vida das populações.
O que é que continuo a pensar? Que é preciso trabalho de fundo, que é preciso olhar para o património e fazer dele fator de desenvolvimento (e não, não é só turismo nem arqueologia e museus). Os italianos perceberam isso há muitos anos. Que é preciso coragem para fazer projetos e os concretizar. Que é preciso conhecimento (essa parte, eles não têm mesmo), reflexão e debate. E que é urgente avançar soluções
O que aconteceu, em 2013, na Estrela foi feito noutros tempos? Sim, noutros tempos, com outra vontade e com outra determinação. É esse caminho que é preciso retomar, impedindo que os telhados dos monumentos sejam transformados em hortas.
Crónica em "A Planície"
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