segunda-feira, 12 de agosto de 2024

CARLOS LOPES - 1984

Tinha regressado na antevéspera de Montemor-o-Novo, onde tinha ido participar nas escavações arqueológicas. Daí a dias, partiria para Mértola. Estava prestes a iniciar o último ano da licenciatura, no meio de um mar de incertezas.

Naquela noite, decidi-me a ficar a ver a maratona, prova derradeira dos Jogos Olímpicos. Carlos Lopes não era o grande favorito. Esse lugar estava reservado ao australiano Robert de Castella e ao norte-americano Alberto Salazar. Que eram filmados uma vez e outra durante o aquecimento, porque a transmissão televisiva era uma coisa mais simples e menos "apresentação do concurso das misses" dos tempos recentes. Bom, lá mostraram Carlos Lopes uma vez, fugidiamente.

Eu também não acreditava que Carlos Lopes fosse ganhar e pensei "fico a ver enquanto ele aguentar; quando descolar, desligo a televisão e vou para a cama". Começa a prova, passam os quilómetros, 5, 10, 20, 25 e Lopes sempre no pelotão da frente. "Entre os 30 e os 35 é que vai ser a grande prova". E nada. Lopes continuava, e à frente havia cada vez menos. E, de repente, a pouco mais de uma légua da meta, aí vai ele. Começo num nervoso miudinho que nunca antes tinha sentido. Só me lembro dele cruzar a meta e eu desatar ao saltos na sala. Bom, aquilo era um terceiro andar e o quarto do vizinho ficava por baixo. Eu parecia o Nijinski (salvo seja) dando saltos. Ficava "suspenso" no ar, para cair de mansinho...

Acredito firmemente que Carlos Lopes potenciou os sucessos que vieram a seguir. Não só pelos sucessos em si, como pelo facto de ter "arrumado" (terem, que Rosa Mota também foi aí crucial) aquela ideia do portuguesito desgraçadinho e inferior e fadado à derrota.

Viva Carlos Lopes, 40 anos volvidos. Continua, ainda hoje, a ser o mais velho vencedor de uma maratona olímpica, tinha 37 anos e meio.


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