De início, ninguém deu importância ao caso. Uma situação de conflito, algures nas Caraíbas Francesas: greves e agitação. Nada de relevante, numa Europa atolada em problemas.
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Hoje, o Público deu-lhe destaque de primeira página anunciado que a agitação social faz tremer Paris. O antetítulo é, porém, mais significativo: "turismo ameaçado". As duas semanas passadas na Martinica em 1994 deram-me uma brevíssima, mas impressiva, visão do problema. Que radicava, e radica, em dois factores principais: em primeiro lugar, há 10 por cento de população branca que detém 90 por cento da riqueza, numa mistura de luta de classes e de luta de raças, como justamente sublinhava o jornalista do Libération Antoine Guiral; em segundo lugar, continuamos, todos nós, a olhar essas antigas colónias com mentalidade colonial. No fundo, são excelentes sítios para férias paradisíacas, com água tépida, vegetação luxuriante e gente simpática (os habitantes da Guadeloupe menos, ainda assim). Mas nada mais.
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No fundo, a única surpresa é que os poderes das metrópoles se surpreendam por estas cíclicas explosões. Esquecendo-se que os vulcões podem estar adormecidos, mas não mortos. E esquecendo também que, em 1980, os independentistas kanakas puseram a ferro e fogo a Nova Caledónia.
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A raíz do problema é sensivelmente a mesma, em dois locais tão distantes. E o cerne da questão, nestes DOM-TOM (departamento ultramarinos-territórios ultramarinos), está muito para além da simples questão do turismo ameaçado.
Fotografia de Elliott Erwitt, datada de 1950, realizada algures na Carolina do Norte. A imagem é tão violenta como a situação que retrata. A excelência da obra de Erwitt (n. 1928) passou pelos caminhos da denúncia social mas está longe de se circunscrever a este domínio. Uma perspectiva mais circunstanciada está disponível em http://www.elliotterwitt.com
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