há um homem de chapéu de coco e sobrolho carregado.
.Podia estar à frente ou estar ao lado,
mas não, está colocado
exactamente por detrás da flor.
Também não está escondido nem dissimulado,
está dignamente especado
por detrás da flor.
.Abro as narinas para respirar
o perfume da flor,não de repente
(é claro) mas devagar,
a pouco e pouco,
com os olhos postos no chapéu de coco.
.
Ele ama-me. Defende-me com os seus carinhos,
protege-me com o seu amor.
Ele sabe que a flor pode ter espinhos,
ou tem mesmo,
ou já teve,
ou pode vir a ter,
e fica triste se me vê sofrer.
.
Transmito um pensamento à flor
sem mover a cabeça e sem a olhar
De repente,
como um cão cínico arreganho o dente
e engulo-a sem mastigar.
Em Portugal não gostamos muito de flores nem de jardins. Há quem goste, claro. Mas o mais frequente, e em especial no sul, onde a sombra falta, é que se peça às autarquias que venham cortar esta ou aquela árvore. O que não deixa de ser estranho e contraditório.
O poema de António Gedeão (1906-1997), mais esta paradisíaca pintura de Henri Rosseau (1844-1910), intitulada O sonho, vão por outro caminho. Embora o poeta acabe comendo a flor...
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