Nas cidades do Mediterrâneo nunca chove, como se sabe. É esse o mito em que muito boa gente acredita. É por isso que as cidades do Mediterrâneo ficam inundadas de água e de imprecações quando caem umas pingas. E nem precisa de ser uma bátega. Foi isso que aconteceu hoje, na caminhada até ao bairro de Bab el-Oued, depois de ter terminado a montagem da exposição, no Musée National des Antiquités et des Arts Islamiques. Era nesta zona da cidade que estava a pensar quando escrevi este excerto num livrinho, publicado há uns anos: "as cidades em volta do mar, cheias de vozes e de gente, são brancas. O branco das paredes reflecte-se nos lenços e na timidez das mulheres. São cidades discretas e, às vezes, mesmo um pouco tristes. Em muitas delas não há turistas, porque os turistas não gostam de cidades belas mas um pouco tristes e porque os turistas querem quase sempre um pouco mais que a bruma que envolve as baías e os portos do mar ao entardecer. As cidades do Mediterrâneo estão entregues a si, à sua história, aos milhares de anos sedimentados no subsolo, aos muros que se esfarelam. São belas assim, de ar colonial já sem colonos, com as paredes brancas e as persianas azuis, com o seu ar um pouco triste e com a bruma e as ruas que assomam ao longo dos portos."
Bab el-Oued era o bairro dos pequenos funcionários na era colonial. Continuou a ser um bairro popular, depois da independência. É um sítio "difícil", onde o ar simpático das ruas e dos prédios esconde terríveis problemas sociais. Em tempos foi uma zona a evitar, muito por via de mitos urbanos que se criaram (como o da guilhotina ambulante...). Hoje, a cidade respira normalmente e as ameaças do passado parecem pertencer, de vez, ao passado. Mesmo em Bab el-Oued. E apesar de problemas recentes (v. aqui).
No cruzamento da Rue Ait Moussa o telefone tocou. A marcação de uma reunião para dia 3 de maio adensou as nuvens da tarde. Que cresceram e desabaram numa série de telefonemas, recebidos em frente à estátua de Abd-el-Kader.
Choveu copiosamente até ao anoitecer.
Bab el-Oued era o bairro dos pequenos funcionários na era colonial. Continuou a ser um bairro popular, depois da independência. É um sítio "difícil", onde o ar simpático das ruas e dos prédios esconde terríveis problemas sociais. Em tempos foi uma zona a evitar, muito por via de mitos urbanos que se criaram (como o da guilhotina ambulante...). Hoje, a cidade respira normalmente e as ameaças do passado parecem pertencer, de vez, ao passado. Mesmo em Bab el-Oued. E apesar de problemas recentes (v. aqui).
No cruzamento da Rue Ait Moussa o telefone tocou. A marcação de uma reunião para dia 3 de maio adensou as nuvens da tarde. Que cresceram e desabaram numa série de telefonemas, recebidos em frente à estátua de Abd-el-Kader.
Choveu copiosamente até ao anoitecer.
Em cima: entrada da exposição, no Musée National des Antiquités et des Arts Islamiques
Em baixo: Place de l'emir Abd-el-Kader
1 comentário:
Gostei do exerto. Lindo!
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