segunda-feira, 7 de setembro de 2015

ARQUITETURA NEOÁRABE EM REGUENGOS DE MONSARAZ

Eia, Abú Bacre, saúda os meus lares em Silves e pergunta-lhes
se, como penso, ainda se recordam de mim.

Saúda o Palácio das Varandas da parte de um donzel
que sente perpétua saudade daquele alcácer.

Ali moravam guerreiros como leões e brancas gazelas. 
E em que belas selvas e em que belos covis!

Quantas noites passei divertindo-me à sua sombra
com mulheres de cadeiras opulentas e talhe fatigado,

brancas e morenas, que produziam na minha alma
o efeito das espadas refulgentes e das lanças obscuras!

Quantas noites passei, deliciosamente, junto a um recôncavo do rio 
com uma donzela cuja pulseira rivalizava com a curva da corrente!

O tempo passava e ela servia-me o vinho do seu olhar
e outras vezes o do seu vaso e outras o da sua boca.

As cordas do seu alaúde, feridas pelo plectro, estremeciam-me
como se ouvisse a melodia das espadas nos tendões do colo inimigo.

Ao retirar o seu manto, descobriu o talhe, florescente ramo de salgueiro, 
como se abre o botão para mostrar a flor.


Al-Mutâmide (1040-1095) e a sua Evocação de Silves. Um poema e a não menos poética tradução de António Borges Coelho. Tudo por causa da arquitetura neoárabe de Reguengos de Monsaraz. Que adquire contornos oníricos à luz da noite.

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