A reunião de ontem do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável decorreu num ambiente diferente. Por razões de ordem logística, o encontro teve lugar na antiga secretaria do jornal "O Século". Já várias vezes tinha passado pelo exterior, mas nunca entrara.
É um sítio verdadeiramente excepcional, todo ele orgulho burguês do início do século XX. Madeiras, vidros e metais de qualidade e bom gosto. Tetos bem desenhados, capitéis coríntios e muita luz. À entrada, do lado esquerdo, lê-se, num dos guichets, Illustração Portugueza.
Olha-se para cima e vem-nos à memória o cenário de Citizen Kane. Talvez se esteja condicionado por o filme ter um jornal como cenário, mas é assim.
"O Século" desapareceu em 1977, no meio de um processo triste. Fica a memória das coisas, no silêncio de um sítio onde tanta gente viveu. Evoquemos o sítio, e a poesia de Cecília Meireles.
JORNAL, LONGE
Que faremos destes jornais, com
telegramas, notícias,
anúncios, fotografias, opiniões...?
Caem as folhas secas sobre os longos
relatos de guerra:
e o sol empalidece suas letras
infinitas.
Que faremos destes jornais, longe do
mundo e dos homens?
Este recado de loucura perde o sentido
entre a terra e o céu.
De dia, lemos na flor que nasce e na
abelha que voa;
de noite, nas grandes estrelas, e no
aroma do campo serenado.
Aqui, toda a vizinhança proclama
convicta:
"Os jornais servem para fazer
embrulhos".
E é uma das raras vezes em que todos
estão de acordo.
Sem comentários:
Enviar um comentário