sexta-feira, 16 de novembro de 2018

DAMNATIO MEMORIAE

Ainda ontem se falou nisto, no colóquio da Faculdade de Letras. É mais que evidente que a mutilação observável em estátuas romanas, mosaicos etc. está longe de ser uma acaso ou um acidente. Com frequência, as motivações são religiosas. Em especial, quando a iconoclasia tomou conta da cabeça das pessoas.

Noutras circunstâncias, o "apagamento da memória", essa eliminação de que aconteceu antes, é claramente político. Temos um excelente exemplo numa lápide mandada fazer para assinalar a construção de uma lápide no castelo de Silves, no verão de 1227. Quem veio a seguir, mandou apagar o nome do construtor.

Uma atitude banal, ao longo da História. E tão menor quanto banal. 


Texto de Artur Goulart de Melo Borges em http://islamicart.museumwnf.org/:
A inscrição, emoldurada por faixa estreita de entrançados, em cursivo nasrida muito floreado e decorativo, preenche em dez linhas e de modo compacto todo o campo epigráfico. A epígrafe comemora a construção de uma torre na cidade de Silves, muito provavelmente a da Porta do Sol. O reforço da capacidade defensiva justificava-se plenamente, pois que, cerca de 40 anos antes, fora ocupada temporariamente pelos cristãos, cujo avanço para o Sul era notório e constituía um perigo eminente para a tomada da cidade, como veio a acontecer de modo definitivo em 646 AH / 1249 AD. Na terceira linha da inscrição foi intencionalmente destruído o nome de quem mandou fazer a construção e que Lévi-Provençal identifica como tendo sido Abu l-Ula Idris, filho de Yakub al-Mansur, por ocasião de uma viagem de inspecção a Silves. Terá ordenado o apagamento do nome Shuaib Ibn Muhammad Ibn Mahfuz quando ali formou um pequeno reino independente em oposição aos almóadas.

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