sexta-feira, 10 de maio de 2019

QUINTA COLUNA Nº. 3: CIDADE DAS ROSAS

Em 2011, o Presidente da Câmara de Serpa, João Rocha, pediu-me um parecer quanto à viabilidade de se proceder à escavação e valorização de um sítio arqueológico, no concelho de Serpa. Não se procurava um local à toa, mas sim O sítio. Ponderados vários fatores – acessos, potencial científico, interesse paisagístico -, indiquei a Cidade das Rosas como sendo o local de maior interesse. E o mais fácil de abordar, num horizonte temporal curto.

O que é a Cidade das Rosas e onde fica? O nome é bonito e esse é o primeiro dado que joga em seu favor. Tem o código nacional de sítio 24 e começou a ser escavada por José Olívio Caeiro (1949-2009). As campanhas foram-se, ao longo de décadas, sem que um projeto de raíz tenha sido construído. José Caeiro publicou, sobre o sítio, breves notas: em 1978, em 1987 e em 1995, nas atas de um congresso e em publicações periódicas. Maria da Conceição Lopes integraria, mais tarde, esta estação, e as que lhe estão associadas em dois estudos que continuam a ser as obras de referência para este território: Arqueologia do Concelho de Serpa (1997) e A Cidade Romana de Beja. Percursos e debates acerca da "civitas" de Pax Ivlia (2003). Em 2006, José Norton, João Luís Cardoso e A. Barros e Carvalhosa publicaram ânforas provenientes do local. A Cidade das Rosas é uma villa romana (habitação de uma grande propriedade), que teve ocupação continuada até ao período califal. Não se pode falar em modelo ou em padrão, mas é uma realidade que constatamos noutros sítios arqueológicos do sul. Ou seja, muitas grandes propriedades não foram abandonadas na Alta Idade Média. Já bem dentro do período islâmico, sítios como Milreu, Cerro da Vila, Alto do Cidreira, Cidade das Rosas etc. continuam a ser habitados.

Alguns materiais islâmicos desta última foram publicados por Manuel Retuerce no Congresso de Cerâmica de Toledo, em 1981. As deambulações feitas por uma peça cerâmica e por um cabo de faca em osso dariam pano para mangas. Não é, contudo, esse o tema do presente texto.

A Cidade das Rosas fica bem perto de Serpa, à distância de uma légua e à vista de que passa na estrada. Mesmo em frente está o Lagar da Herdade Maria da Guarda. Em março de 2012, manifestei a João Rocha o interesse em, em conjunto com Maria da Conceição Lopes, iniciar um projeto de investigação sobre a Cidade das Rosas. A intenção foi recebida com agrado tanto pelo autarca com por João Cortez de Lobão, proprietário do local. O mandato autárquico 2013/2017 interrompeu este processo.

No início de 2018, foi anunciado, pela Câmara de Serpa, o iminente arranque de um projeto para a Cidade das Rosas. Foi uma boa notícia. O sítio tem uma belíssima localização e o proprietário é uma pessoa que tem sensibilidade para estes temas. O potencial é enorme e um dia terá de ser concretizado. Não só através da continuação dos trabalhos iniciados, há já 40 anos!, por José Caeiro, como pelo alargamento da escavação a outros sítios, que potenciem uma explicação global da Cidade das Rosas. É coisa para uns bons 20 anos.

Aguardo, aguardamos todos, com interesse, expetativa e entusiasmo, o arranque das escavações, uma vez que em 2018 nada aconteceu. Provavelmente será em 2019 que se vai dar o primeiro passo. Virão, depois, o evoluir dos trabalhos, as publicações e o programa de divulgação do sítio.

Crónica publicada hoje, no "Diário do Alentejo"

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