Quando, na passada semana, aproveitei uns minutos de espera para poder fotografar – agora, é o sol que manda no meu trabalho, o que dá aos dias um toque poético... -, passei pelo Centro de Trabalho do PCP de Vila Franca de Xira. Ao comprar a entrada, a senhora que me atendeu perguntou “o camarada é aqui de Vila Franca?”. A pergunta deixou-me contente. Ou seja, os militantes são muitos e ela não os conhece a todos. Esclareci que não. Ato contínuo informou “não se esqueça que, se quiser ir ao comício, tem de reservar lugar”. A recomendação deixou-me tranquilo. A “Festa do Avante!” será marcada pela disciplina, pela organização e pelo sentido de responsabilidade.
Sou contra a realização da “Festa do Avante!”?
Nem por sombras, claro. Irei, com a mesma contenção com que tenho ido a outros eventos públicos. Já fui a corridas de touros, magnificamente organizadas e onde o rigor imperou; fui a uma ópera ao ar livre, onde o padrão de disciplina foi o mesmo. Tenho ido a festas de amigos onde o distanciamento, com uma ou outra exceção, tem sido a regra.
Não faltam os que querem mascarar a tentativa de impedir uma festa política de preocupação sanitária. Que não tem sido válida para outras iniciativas, do mais variado tipo. E com muito menos profissionalismo, rigor e eficácia do que, estou certo, irá acontecer na Atalaia. A Festa, com toda a convicção e alegria que pomos no terreno, será mais contida que em anos anteriores. Não se passa por uma situação destas ignorando-a e agindo de forma ligeira.
Tem-se apresentado a Festa como um “ajuntamento”. Que não o será. Ou, pelo menos, sê-lo-á muito menos que a Feira do Livro, as celebrações religiosas na Cova de Iria ou a caótica chegada de turistas ao Algarve. E com muito melhor organização, por certo.
O que aqui está em causa é outra coisa, bem diferente. Toda esta “preocupação” esconde, ou pretende esconder, o mais primário anticomunismo. Agitam-se fantasmas e escolhem-se culpados. Uma comunicação social servil ajuda à festa, atacando o PCP às claras e promovendo, sem vergonha, um recém-criado partido fascista. As redes sociais, que são reflexo, mas não reflexão, ajudam e espalham a campanha anti-PCP.
Numa conhecida ópera de Verdi, o rei era assassinado por conspirados disfarçados, durante um baile de máscaras. Agora, em tempo de máscaras, já ninguém se disfarça para estas campanhas. Vale a pena citar as palavras recentes do jornalista Nuno Ramos de Almeida: “com os artigos sobre a festa do avante assiste-se a um ajuste de contas. Não apenas em relação ao PCP e a sua história, mas também com o próprio passado desses críticos. Estão a ajustar contas com aquilo que foram aos 20 anos, antes de renegarem a época em que acreditavam que não viviam no melhor dos mundos possíveis e aderirem à lista dos admiradores dos poderes deste mundo. "Os vencidos da vida quando se juntam é para comer", dizia alguém da geração de 1870. Os vendidos de hoje quando escrevem é para ajustar contas contra tudo o que lhes lembra que já acreditaram em qualquer coisa que não seja ajoelhar ao poder do momento”.
Crónica em "A Planície"
Um comício que não foi uma baile de máscaras... Uma Festa que veio mostrar o que são a organização e a competência.
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