Tarde quente e húmida, no Funchal. Faço uma pausa enquanto o sol roda. Nunca tanto o sol me condicionou, como nestas últimas oito semanas. A luz está limpa e mediterrânica. Faço quase quatro quilómetros ao longo da Estrada Monumental. Há vozes do mar por ali.
VOZES DO MAR
Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso delíquio d'oiro intenso,
Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?...
Tu falas de festins, e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar?
Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?
Tens cantos d'epopeias? Tens anseios
D'amarguras? Tu tens também receios,
Ó mar cheio de esperança e majestade?!
Donde vem essa voz, ó mar amigo?...
... Talvez a voz do Portugal antigo,
Chamando por Camões numa saudade!
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