Não é por ser domingo, mas apenas porque sim. O azul do céu e o dourado dos muros pintados por Alfred Sisley tem sido a minha visão de muitos dias. Nem sempre assim, quase sempre num tom bonito. Na solidão dos dias - horas a fio sem dizer uma palavra -, terra após terra, Portugal dentro.
Tijolo
areia
andaime
água
tijolo.
O canto dos homens trabalhando trabalhando
mais perto do céu
cada vez mais perto
mais
- a torre.
E nos domingos a litania dos perdões, o murmúrio das invocações.
O padre que fala do inferno
sem nunca ter ido lá.
Pernas de seda ajoelham mostrando geolhos.
Um sino canta a saudade de qualquer coisa sabida e já esquecida.
A manhã pintou-se de azul.
No adro ficou o ateu,
no alto fica Deus.
Domingo . . .
Bem bão! Bem bão!
Os serafins, no meio, entoam quirieleisão.
Carlos Drummond de Andrade
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