Anunciava a empresa “Infraestruturas de Portugal” há semanas: “foram publicados os concursos públicos para a elaboração dos estudos e projetos necessários tendo em vista a modernização do troço entre Casa Branca e Beja e o estudo da execução de uma Ligação Ferroviária ao Aeroporto de Beja e o concurso para a elaboração do projeto de duplicação e modernização do troço Poceirão – Bombel". Estudos e projetos e projetos e estudos. Os prazos são generosos. Um deles aponta para quase 1000 (mil) dias de execução.
Recordemos: em novembro de 2017, o então ministro das Infraestruturas, Pedro Marques, afirmava que havia a possibilidade de a capital do distrito ter ligação ferroviária a Lisboa em 2018. O deputado Pedro do Carmo diria mesmo que depois de meses de reuniões e contactos sem alaridos (adoro esta do “sem alaridos” – psshiuuu, vamos falar assim baixinho que os senhores que mandam ficam assim tipo mais sensíveis) iam ser compradas novas carruagens que iriam garantir a tal ligação. De 2017 passamos para 2018. De 2018 para 2019. De 2019 para 2020. E depis 2021. E depois virão os estudos e os projetos e os estudos. Daqui a uns anos haverá projeto. Mas depois já não valerá a pena porque o modelo de negócio não o justifica e não é sustentável blablabla.
Regularmente, vemos por cá ministros (Moura está no top dessas visitas rigorosamente inúteis) e depois lá vem a conversa habitual “oh, sim, o interior; oh, claro, o cante alentejano; oh, sem dúvida, o Património; oh, pois evidentemente, o queijo e os enchidos e mais o vinho”. É sempre assim.
Há quem goste disto. Sobretudo os que vivem da Política. Literalmente. A girândola de ministros e secretários de estado de visita aos sítios mais remotos vai ser um hábito, que vamos ter autárquicas. Preparem-se os tapetes vermelhos, as fanfarras e os discursos balofos. Preparem-se as promessas, os protocolos e o anúncio de projetos. Preparemo-nos, sobretudo, para ouvir as desculpas que a culpa foi do covid para pouco ou nada se fazer.
Tem de ser assim? Não tem. Importante mesmo é explicar que é preciso construir uma nova esperança. E é preciso explicar às pessoas que enquanto este desfile de governantes tem lugar, o verdadeiro investimento nos passa ao lado. Porque a paixão pelo interior mora no interior e não no Terreiro do Paço.
Crónica em "A Planície"
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