segunda-feira, 21 de junho de 2021

UM CERTO TOQUE ED WOOD...

Chegou-me, pelo correio, a magnífica "Agenda Cultural" da Câmara de Mértola. Já quase esquecera que me tinham pedido um texto sobre a minha aventura fílmica "Chegar a casa", em 2015. Um episódio engraçado, que foi visto na altura, por vários colegas meus, como uma total excentricidade. Foi só um pouco, mas diverti-me imenso.

Aqui fica o texto:

“Chegar a casa” não é exatamente um filme. É mais uma nota, uma daquelas folhas que tiramos de um bloco de apontamentos, qualquer coisa de que não nos queremos esquecer. A ação gira em tono de um homem que não consegue encontrar o caminho de volta, que quer chegar a casa e se perde, assombrado pela memória do passado e pela presença fantasmagórica de três mulheres. O grafismo do filme, e detalhes como a “voz-off” e o formato 4:3, foram vagamente inspirados em “Tabu”, de Miguel Gomes. O homem que anda em círculos é uma citação expressa de “Toby Dammit”, de Fellini.

Desta curta não rezará a história. Foi projeto que propus à Câmara de Mértola, em finais de 2014. O orçamento era modesto, mas suficiente. A minha única preocupação era que tudo corresse bem e que a entidade produtora não ficasse comprometida ante uma coisa imprestável. Tal não sucedeu, felizmente. O filme seria admitido em dois festivais, uma nacional, outro internacional, de onde saiu sem glória nem vexame.

A filmagem, milimetricamente planeada, ocupou três dias. Juntei depois, em jeito de uma pós-produção, imagens recolhidas com im telemóvel e com um “tablet”. A montagem foi a parte mais divertida. A criação de efeitos, de imagem e de som, o acerto dos planos, da locução e da música fizeram-me mergulhar num mundo desconhecido e estimulante.

“Chegar a casa”, falado em árabe e legendado em português, foi estreado no Festival Islâmico de 2015. Foi resultado da generosidade da Câmara Municipal de Mértola e de um vasto grupo de amigos: Sana Contá, Joseline Cabral. Percida Camará, Azeneide Batista, Manuel Passinhas da Palma, Joaquim Simões, Hélder Coelho, Fábio Moreira, Abdalah Khawli, Badr Hassanein, Guilhermina Bento, Mercedes Cerón, Antónia Baião, Daniel Sasportes, José Moças, Jorge Sales e Rui Madruga. Nunca teria visto a luz do dia sem o Jorge Murteira. E, bem entendido, sem a Isabel Martins.

Está disponível no youtube: https://youtu.be/vQHH8zXDiwQ


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