quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

O ANTIGO GRÉMIO: COMO SE TRANSFORMOU UM PROJETO SÉRIO NUMA PROPAGANDA DE FACHADA

Estava-se em plena campanha eleitoral para as autárquicas de 2017 quando recebi a notícia. A reabilitação do antigo Grémio da Lavoura iria ter um financiamento comunitário de 85%. Do valor global de 2.770.000 euros, a Câmara Municipal iria investir 415.000 euros. O equivalente a três rotundas do Intermarché, para sermos práticos.

 

Eu iria deixar as minhas funções autárquicas dentro de cerca de um mês e via com natural agrado a conclusão de um difícil processo negocial. Que visava dar vida a um dos mais belos edifícios de Moura e que a capacidade de iniciativa de José Maria Pós-de-Mina permitira, em 1999, que passasse a ser património municipal.

 

O que se pretendia? A ideia era simples e direta. O projeto, ambicioso e virado para o futuro, seria concretizado sem grandezas tontas nem luxos despropositados.

Objetivos a cumprir:

1. Recuperar o edifício e dar-lhe novas funções;

2. Instalar a biblioteca municipal em articulação com um Centro Documental da Oliveira (justificado pela presença do CEPPAL, do Jardim das Oliveiras e do Lagar de Varas e, ainda, pela existência de um Prémio Académico sobre Olivicultura, que o presidente Álvaro Azedo se encarregou depois de extinguir);

3. A dimensão do edifício permitiria ali instalar ainda a Universidade Sénior e a Ludoteca, dando uma interessante multiplicidade de utilizações aquele espaço;

4. O tema forte seria sempre a olivicultura, tomada numa perspetiva séria e de ligação entre espaços culturais, património histórico, atividades económicas, em articulação com instituições de ensino superior.

Esse projeto de transformação (e de futuro) foi abandonado em 2018. Em vez disso recuperou-se a cobertura (que também fazia parte do projeto anterior, claro está) e deu-se um arranjo na fachada. Nada mais. No interior não se tocou e a utilização do edifício é mínima. Uma lástima. Um desperdício. E mais tempo perdido. O que aconteceu reflete, na perfeição, o que desde 2018 é a gestão municipal na minha terra: muita fachada, muita propaganda e muito poucos resultados práticos. Gostaria, já agora, que se mostrasse publicamente como está o interior do antigo Grémio.

 

Escrevia eu no meu blogue no dia 7 de setembro de 2017: “Desta vez é que é. Não há a possibilidade de falhar”. Claro que falhou, porque a CDU não ficou à frente dos destinos do concelho. E porque, ainda assim, nunca pensei que a falta de senso fosse ao ponto de se atirar à rua um financiamento de 2 milhões e 350 mil euros. Falha-se muito, e muito pouco se acerta, desde outubro de 2017.

 

Post-scriptum: Entendi terminar o pingue-pongue com António José Gomes. Porquê? Porque não vale a pena debater com que diz que se “escondiam faturas na gaveta” para depois “explicar” que isso queria dizer que não se cumpria a Lei dos Compromissos; com quem diz que a CDU determinou o encerramento da LÓGICA, para depois “explicar” que afinal se perspetivou esse encerramento. Há pessoas de meias-verdades, armadas ao subtil e de uma desonestidade intelectual sem limites. E com quem não vale a pena conversar.


Crónica em "A Planicie"

Eis o interior do edifício há anos. Como estará hoje?

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