A isso chama-se equinócio. Vai começar a Primavera. E é dia mundial da poesia. Não gosto de dias mundiais disto e daquilo. Para a poesia abro uma excepção. Com um texto português, de David Mourão-Ferreira (1927-1996).
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E por vezes as noites duram meses
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
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Texto de um manuscrito árabe medieval de uma das extraordinárias bibliotecas do deserto mauritano (fotografia de Gianni Baldizzone). Poética é a ideia de guardar o conhecimento em sítios recatados e fora do bulício do mundo. Talvez porque só procura as coisas quem as quer encontrar.
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