Sinto saudades do cricket, confessa Guy Bennett/Guy Burgess, no final do filme. The past is a foreign country: they do things differently there é uma frase célebre e que se adapta a muitos de sentimentos desencontrados que passam por esta película.
Em Portugal o filme intitulou-se História de uma traição (1984) e foi uma das melhores obras que vi na década de 80. A trama gira em volta dos tempos de estudante e das várias duplicidades da vida do jovem Bennett, que é, na verdade, o agente duplo Guy Burgess (1911-1963). A juventude deste, marcada pela homossexualidade e pela aproximação ao marxismo, levou-o, aos poucos, a afastar-se da sua pátria de origem e a procurar outros caminhos. História de uma traição, para além de ter dois grandes actores, então em início de carreira (Rupert Everett e Colin Firth), tem noção do tempo e uma direcção artística de recorte clássico. Classe é a única palavra que me ocorre. O que me perturbou na altura foi a forma como a dúvida se vai instalando no espírito de Bennett e o modo como a traição se desenha à distância.
Sobre o affair Burgess há outro notável filme, rodado por John Schlesinger em 1983 para a tv. Chama-se An englishman abroad, passou há décadas (em 1986, talvez) na RTP1. Tenho poucas esperanças que seja reposto algum dia.
Burgess fez parte de um célebre grupo de espiões, todos oriundos de Cambridge, que durante anos passou, e a coberto da sua acção no MI5, segredos para a União Soviética: Donald McLean (1913-1983), Anthony Blunt (1907-1983), Kim Philby (1912-1988). Dos quatro apenas Blunt permaneceu na Grã-Bretanha, sendo apenas descoberto no final dos anos 70. O quinto membro, John Cairncross (1913-1995) permaneceu incógnito longos anos, sendo desmascarado por outro agente duplo.
História de uma traição foi realizado, em 1984, por um então muito jovem Marek Kanievska (n. 1952).
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2 comentários:
É curioso como determinados posts seus não merecem comentários...
Vi o filme há alguns anos e depois de ler o seu post fiquei com vontade de o rever. É sem dúvida um grande filme, em que as coisas são o que são, sem grande alarido, em que as abordagens são feitas de forma natural.
Aconselho também a que todos vejam o filme, para, quem sabe, finalmente, compreenderem certas questões.
Luís Amor
O que eu procurei este filme... não sabia o nome original e daí... mas hoje inspirei-me e coloquei a frase do cricket thanks GOD!!!! Obrigada
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