O canal Odisseia mostrou, há dias, imagens da vida no extremo sul da Mesopotâmia. As filmagens têm alguns anos e a realidade que retratam talvez hoje já não seja bem assim, depois da guerra e com o Iraque atolado no caos.
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Não era um documentário muito pormenorizado nem de excepcional qualidade mas retratava, ainda assim, um pouco do quotidiano dos madan, um grupo populacional que, há milénios, faz dos pântanos do fim do mundo o seu habitat permanente. As casas, tecidas a partir de longos caules, os barcos, o modo de fazer o pão, não terão mudado desde antes de Cristo e era quase uma máquina do tempo onde podíamos entrar, podendo imaginar-se como viviam as populações dos tempos de Nabucodonosor, quando o mundo girava à volta do Tigre e do Eufrates.
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Percebe-se melhor o desenho das colunas e a arquitectura dos templos egípcios ao olhar o interior daquelas casas e, ao ver como aquele povo vive sempre rodeado por água, ganham um novo sentido lendas como a do dilúvio universal, um drama sempre repetido na Mesopotâmia e sem o qual ela não poderia viver.
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Dantes as águas subiam todos os anos, ao mesmo tempo devastando e regenerando a vida. Hoje, a tecnologia dominou o Eufrates e as barragens turcas, sírias e iraquianas sucedem-se na paisagem. A moderna agricultura espreita já o Médio Oriente e aos madan não sobrará muito tempo para continuarem os sues ritmos milenares.
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As imagens do documentário do Odisseia desfilaram depressa e fica-se com vontade de saber mais dos madan, do que pensam da vida, do modo como olham o mundo e que perspectiva têm das coisas, vivendo entre água, em casas sobre água e navegando sempre ao longo dos pântanos. São perguntas sem resposta. Há muito que o Iraque não é um destino aconselhável para os viajantes e, pelos vistos, nos tempos mais próximos a situação não deverá alterar-se. O Iraque será, talvez um dia, destino de viagem. Talvez possa nessa altura conhecer, enfim, Samarra e Ur e Ninive ou o que delas ainda restar. Ou o que tiver sido depositado nos museus, usados quase sempre como sarcófagos e santuário da memória dos povos.
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A vida dos pântanos da Mesopotâmia será talvez, nessa altura, coisa passada e no Iraque, um dia, hão-de contar-se histórias dos madan como se eles tivessem existido há muito, muito tempo ou como se eles tivessem um dia saído da máquina do tempo e sido apanhados, por mero acaso, pelas câmaras do canal Odisseia.
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1 comentário:
http://www.bibleorigins.net/MVC-101S.JPG
É engraçado ver que motivos representando exactamente o mesmo edíficio de carácter agrário, existe em em selos desde do início do terceiro milénio, talvez mais tardio (falha-me agora uma data mais exacta). Ali o rio correu sempre o mesmo curso.
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