quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O ALENTEJO NOS SÉCULOS VIII E IX

Segunda-feira foi dia de estreia. Nunca antes tinha estado na Faculdade de Letras de Lisboa, a casa onde licenciei, para integrar um júri. Neste caso, como arguente de uma dissertação de mestrado sobre o sudoeste peninsular nos séculos VIII e IX. Um trabalho corajoso de Ana Luísa Sérvulo Miranda, que se lançou numa investigação sobre o elemento tribal na sociedade andaluza do Gharb. Tenho, pessoalmente, as maiores reservas quanto à orientalização precoce do ocidente. Território onde o fator indígena tem, até épocas muito tardias, peso considerável.


Socorro-me de uma passagem da minha tese:


Cerca de 50 quilómetros a leste de Beja, a componente mullawad continua a marcar presença preponderante: Ibn Hayyan assinala a revolta de Faraj b. Khayr al-Tutaliqi, que se rebelou em 234/848-849 contra o emir Abd al-Rahman II a partir de Aroche e de “Dnhkt”, topónimo não identificado. Vencido pelas tropas do emir, põe-se ao serviço deste e é nomeado para diversos cargos, nomeadamente o de governador de Beja. O sobrinho ou sobrinho-neto desta personagem, Abd al-Malik b. Abı l-Jawwad, terá um papel importante na região no final do século IX. Bakr b. Salama, rebelde na região do Gharb e descendente de Faraj b. Khayr al-Tutaliqi, tinha também aparentemente uma relação com Ibn Maslama al-Arushi. Teria levado socorro em 284/897 aos muwalladun de Mont-Maior na província de Niebla. As ligações familiares e a componente muwallad continuavam nesta época a marcar os acontecimentos no limite oriental da kura de Beja.


Aparentemente, as importantes minas de prata de Tutaliqa dependiam dos Banu Tutaliqi, mas nada permite afirmá-lo de modo definitivo. As questões sem resposta são, de momento, numerosas : quem explorava as minas e como eram organizados os locais de exploração? O facto de serem exploradas “secretamente”, como afirmava al-Razi, confere algum sentido à ideia que estas minas eram controladas por uma família. Neste caso, não poderemos pensar que a sua exploração era confiada a pequenas comunidades autónomas? Continuamos sem saber, e nesse domínio apenas a arqueologia poderá dar respostas, qual o tipo de povoamento da região.


Tutaliqa ou Totalica seria a zona em torno de Santo Aleixo, no concelho de Moura. A prata terá, até meados do século XI, sido a garantia da riqueza da região e o fator essencial que permitiu que grupos familiares solidamente enraizados no território constituissem, usando frequentemente alianças matrimoniais, verdadeiros governos autónomos.

Com ou sem História, a tarde e a noite de hoje serão passadas em Santo Aleixo.



Galena argentífera

1 comentário:

francisco perfeito caetano disse...

a ribeira de toutalga onde desagua? perto de moura?passa,estamos certos, ao lado de stº amador e de safara, por detrás do monte dos lameirões e do abril. existe uma ponte de toutalga? será entre safara e sobral?porque terá que ser toutalica na zona de stº aleixo?gostaria de saber em que se baseia para afirmar ou para ter optado por stº aleixo. lá terá novos dados,outros, claro!